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Oralidade

Autor: Beth Marcuschi,

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco-UFPE / Centro de Artes e Comunicação / Departamento de Letras / Centro de Estudos em Educação e Linguagem-CEEL,

A noção de oralidade está estreitamente relacionada ao uso da modalidade oral da língua em práticas sociais e discursivas, tanto no que se refere à sua produção, quanto no que diz respeito à sua escuta. Envolve a ação de linguagem de sujeitos ativos e responsivos em contextos interacionais diversos (públicos ou privados) e registros de linguagem variados (formais ou informais).

A oralidade não se restringe ao estudo da materialidade da fala, mas envolve, em contextos socioculturais específicos, a fala associada a seu ritmo, entonação, volume e entrelaçada a múltiplas linguagens, como a gestualidade, a mímica, a imagem e até à modalidade escrita da língua (por exemplo, na TV, numa exposição oral em que se usa algum apoio escrito). Mesmo quando um indivíduo não se manifesta verbalmente, suas reações corporais (de interesse, curiosidade, tédio, indiferença, cansaço, emoção, entre outras) podem influenciar nas decisões discursivas tomadas por seu(s) interlocutor(es) e, com isso, no andamento da interação.

Quando a criança chega à escola, já sabe falar sua língua materna e interagir em situações do cotidiano. Por isso, indicar para o aluno simplesmente que “converse com o colega” não significa tomar a oralidade como objeto de ensino. A oralidade a ser trabalhada no espaço escolar deve ser, sobretudo, a que favorece o desenvolvimento da proficiência do aprendiz em gêneros orais formais públicos, ou seja, em gêneros que circulam em contextos de uso linguístico pouco comuns no dia a dia e para os quais exige-se um conhecimento que não figura no saber cotidiano.

Bons exemplos de gêneros da oralidade a serem estudados no contexto da alfabetização e dos anos iniciais da escolarização são, dentre outros, “Contação de histórias”, quando as crianças são convidadas a (re)contar para os colegas histórias lidas ou ouvidas, “Debate regrado”, ocasião em que os alunos são orientados a discutir algum tema polêmico do seu cotidiano (restrição às guloseimas na hora do lanche, por exemplo), “Exposição oral”, contexto no qual os aprendizes devem expor sobre determinados conteúdos (os hábitos de seu animal de estimação, por exemplo). Por serem muito utilizados na escola, é costume partir-se do pressuposto de que o aluno domina esses gêneros, quando, ao contrário, sua produção e, também, sua escuta atenta (capacidade rotineiramente desconsiderada) precisam ser ensinadas, levando-se em conta a situação comunicativa, a construção do plano textual, o uso de materiais de apoio, dentre outros aspectos.

Para além dos gêneros citados, é também fundamental propiciar o contato da criança com outros gêneros da oralidade, em áudio e/ou em vídeo, tais como “receitas de cozinha”, “propagandas”, “entrevistas”, “notícias” e que devem ser selecionados, quanto ao tema e complexidade, em função da faixa etária a que se destinam. Posteriormente, cabe então promover a produção, veiculação e escuta desses e de outros gêneros orais em sala de aula.


Verbetes associados: Condições de produção do texto, Contação de histórias, Fala, Gêneros do discurso, Habilidades linguísticas, Oralidade e escrita , Produção de textos orais, Reconto, Situação comunicativa


Referências bibliográficas:
CORDEIRO, G. S. Ensino da linguagem oral na educação infantil: o lugar dos gêneros textuais formais. Anais do V Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais. Universidade de Caxias do Sul, RS, 11 a 14 de agosto de 2009. Disponível em: http://www.ucs.br/ucs/tplSiget/extensao/agenda/eventos/vsiget/portugues/anais/textos_autor/arquivos/ensino_da_linguagem_oral_na_educacao_infantil_o_lugar_dos%20generos_textuais_formais.pdf. Acesso em: 15/04/2014.
LEAL, T. F.; GOIS, S. (Orgs.). A oralidade na escola: a investigação do trabalho docente como foco de reflexão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

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