Aula inaugural do “Letramento Profissional” discute relação entre conteúdo e forma na escrita e interpretação de textos

Curso é voltado para professoras e professores da Educação Infantil da rede municipal


     

Acontece • Segunda-feira, 03 de Setembro de 2018, 18:00:00

 
Teve início na última sexta-feira, 31 de agosto, o curso "Letramento Profissional: práticas de escrita do(a) professor(a) na Educação Infantil" , elaborado e organizado pela Secretaria de Educação de Belo Horizonte (SMED/BH) e pelo Ceale. A aula inaugural ocorreu na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, reunindo todos e todas as cursistas. Os próximos encontros ocorrerão em nove regionais da capital, totalizando as nove turmas ofertadas.
   
Antes de iniciar a primeira aula, o professor da FaE e coordenador do curso pelo Ceale Gilcinei Carvalho convidou a diretora da FaE Daisy Cunha e a professora Vânia Machado, gerente de coordenação da Educação Infantil da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), para darem boas-vindas aos cursistas.
 
A diretora da FaE compartilhou um pouco de sua experiência no início da carreira, como professora da rede municipal de BH, lembrando que na década de 1980, quando começou a dar aulas, já havia por parte da prefeitura uma prática de formação de professores a partir de cursos diversos. “Esses cursos foram muito importantes para abrir meus horizontes, foi um tempo riquíssimo e estruturante do meu percurso”, afirmou Daisy. A diretora também chamou atenção para a importância estrutural da escrita na vida profissional dos professores.
 
A professora Vânia Machado expressou a alegria, em nome da equipe da SMED, de o curso ter tido procura grande. “A gente na Educação Infantil tem muitos desafios na escrita, e é muito importante instrumentalizar cada vez mais os profissionais”, defendeu.
 
Gilcinei, representando a equipe de professores do curso, explicou que a proposta do curso não é teorizar, mas que haverá busca por reflexão a partir da prática. O pesquisador do Ceale também informou que o curso é de aprofundamento e que “também vai na direção de ajudar na profissionalização do professor da Educação Infantil”.
 
Primeira aula
 
Gilcinei, na abertura a aula, explicou o motivo do título do curso. Ele problematizou a visão de que, pela escola ser vista como o espaço de excelência no ensino da leitura e da escrita, o letramento para o professor já seria algo “automático”.
 
O professor da FaE explicou que o objetivo do curso não é discutir o cotidiano da relação do professor com o aluno. “Nosso foco tem a ver com as ações do professor”, esclareceu. Exemplificou citando as demandas colocadas para o professor ao preencher formulários ou produzir relatórios.
 
Para começar a levantar as questões que o curso abordará, Gilcinei utilizou duas notícias para ilustrar situações que podem ser vivenciadas pelos professores em relação a suas demandas. A primeira foi sobre um pai na Inglaterra que corrigiu erros de ortografia e atribuiu nota a uma carta de notificação de multa da escola enviada a ele, devido ao excesso de faltas do filho.
   
Gilcinei interpretou a situação, chamando atenção para a ação do pai, que “tentou encontrar um ponto que fragilizasse o texto, devido a sua reprovação do conteúdo”. Como o texto repercutiu na mídia, a ação trouxe efeitos. O pesquisador do Ceale explicou que nesse exemplo existe um processo comunicativo que envolve a comunidade escolar, e que o pai utilizou a linguagem da escola, ao utilizar a nota, envolvendo também uma questão de cultura escolar.
 
A segunda notícia foi o caso recente do menino que mandou um bilhete para a mãe em nome da professora para não ir à escola. Gilcinei chamou atenção para os elementos que denotavam a simulação de um bilhete verdadeiro, e explicou que o resultado do ponto de vista de produzir sentido não está sob controle, havendo pessoas que reprovaram e que entenderam a ação. “O aluno pode ter tido uma aula sobre como se escreve um bilhete, mas ele pode ter inferido a partir da vivência, confirmando que a escola é uma instituição muito ligada ao letramento” apontou Gilcinei.
 
Para ele, esses dois exemplos mostram que “quando a gente pensa como a gente lê e escreve, há a necessidade de fazer uma equação que é muito importante, da relação entre o conteúdo e a forma. Essas duas coisas não são separadas”. No primeiro caso, o pai entendeu a notificação, e buscou alguns elementos da forma para contornar o conteúdo, observou Gilcinei. O professor finalizou a aula explicando que a natureza da interpretação começa não só na palavra, mas a partir de vários recursos de linguagem empregados para transmitir a informação.
 
Assista à aula inaugural na íntegra em nosso canal de Youtube
  
O curso
 
Os objetivos do “Letramento Profissional” são propor situações de uso da escrita no contexto profissional da Educação Infantil, analisando as estratégias discursivas presentes no cotidiano da instituição escolar; avaliar as formas de registro e de divulgação de informações, em especial aquelas que envolvem a rotina da escola, como os relatórios, os relatos, o planejamento, os bilhetes, entre outros; e caracterizar diferentes gêneros textuais, apresentando elementos sobre: ‘para quem se escreve’, ‘o que se escreve’ e ‘como se escreve’ nessas situações profissionais. O curso ocorre em nove regionais de Belo Horizonte.