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Roda de leitura e escrita e leitura na matemática


     

Letra A • Quinta-feira, 17 de Outubro de 2019, 16:54:00

 
Uma roda de leitura para além dos portões da escola
A disposição de um dos seus alunos para a leitura foi o pontapé inicial da ação
 
Por Bruno E. Campoi
 
Com uma turma já alfabetizada, a professora DalvaniGoes, do segundo ano da Escola Municipal Ana Assis de Medeiros, em Cruzeta (RN), percebeu um problema: mesmo que seus alunos já soubessem ler, eles se interessavam muito pouco por livros em momentos reservados para leitura. Ela conta que “eles liam cinco, dez minutos e não queriam mais, preferiam estar brincando.”
 
Isso se deu no início de 2018, mesmo período em que a biblioteca da escola começou a desenvolver o projeto “Tenda da Aninha”, no qual cada professor devia escolher um autor para trabalhar em sua sala. Nesse projeto, Dalvani optou pelos textos de Sílvia Orthof, em especial,o livro “Maria vai com as outras”, já que, segundo ela, havia em sua sala alunas que “conseguiam levar as outras facilmente na conversa.”
 
Com a realização de diversas rodas de leitura dentro da sala de aula, os alunos foram se interessando cada vez mais pelas histórias da autora e por sua biografia. Entretanto, a atividade de leitura poderia ter encerrado aí se um dos alunos de Dalvani, João Victor, não tivesse falado com a professora que gostaria que seus colegas fossem a sua casa conhecer seus livros.
 
Gostando da ideia, Dalvani conversou com os pais do aluno e a mãe de João Victor, doutora em sociologia, abriu a casa para a turma. No dia marcado, em roda no tapete da sala e deitadas no sofá, as crianças exploraram os livros de João Victor e depois assistiram a vídeos de peças montadas a partir de histórias de Sílvia Orthof. A atividade durou duas horas, e Dalvani conta que as crianças gostaram tanto que no fim não queriam voltar para a escola.
 
“A partir daí, as outras crianças queriam também fazer rodas de leitura em suas casas e mostrar que também tinham livros para os colegas conhecerem”, narra a professora. Aproveitando a empolgação, Dalvani resolveu expandir o espaço de leitura dentro da própria escola. Com livros muitas vezes recebidos do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), as rodas de leituras realizadas no pátio fizeram com que crianças de outras salas se interessassem pela atividade.
 
As rodas de leitura estimularam também a realização de uma peça de “Maria vai com as outras”, que chegou a ser apresentada em um projeto municipal que promove atividades culturais em uma praça do município. “Eu estou muito feliz porque estou percebendo que eles estão desenvolvendo o gosto pela leitura”, afirma a professora. Agora, de acordo com ela, os alunos conseguem, durante a roda de leitura, ler até três livros, dependendo do tamanho do texto. Esse maior interesse dos alunos também incentivou a criação de um cantinho de leitura dentro da sala de aula para que aqueles que acabam as atividades de sala primeiro possam ir a esse espaço para ler.
 
 
A matemática da leitura e da escrita
Projeto criado em cidade de Pernambuco desenvolve habilidades de alunos através de eixos da matemática
 
Por Thiago Rodrigues
 
Que a matemática é uma linguagem não é segredo. Mas é possível relacionar a matemática com o incentivo à leitura e à escrita? Essa é uma ideia que vem trazendo bons frutos em escolas públicas do interior de Pernambuco, mais precisamente no município de Trindade. Idealizado por Samária Mércia, coordenadora do Programa Alfabetizar com Sucesso (PAS) e técnica da Secretaria Municipal de Educação de Trindade, o projeto ‘Dia da Matemática’ consegue unir os principais eixos da matemática com a realização de leituras e produções de textos.
 
Com um total de 695 alunos de três escolas municipais de Trindade, o projeto promoveu encontros semanais, durante quatro meses em 2018, para tratar de forma diferente o ensino da matemática. “Estávamos percebendo que os meninos estavam bem desinteressados no componente de matemática. E, além disso, tem a questão de os professores não saberem o que fazer exatamente a respeito disso, porque estava tudo naquela aula de quadro”, explica Samária, contando que, a partir disso, foi convidada a pensar algum tipo de intervenção que pudesse melhorar a motivação dos alunos nessa área. 
 
Por meio da elaboração de um cronograma, foi delimitado o foco em alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Na maioria dos dias, era indicado algum texto ou história que se relacionasse com o tema da aula para incentivá-los às práticas de leitura. Além disso, após o término dos encontros, a percepção das crianças sobre as atividades era contada, por elas mesmas, em um diário. Esses incentivos buscaram desenvolver mais do que os eixos matemáticos básicos, mas também criar o hábito da leitura e auxiliar nos processos de escrita, essenciais nessa fase de ensino.
 
As escolas participantes, em avaliações diagnósticas efetuadas pela Secretaria Municipal da Educação, receberam bons resultados após a execução do projeto, em comparação com outros simulados propostos antes da implementação das atividades. “No primeiro simulado, a escola teve em média de 30 a 40% de notas acima da média em matemática. Após o projeto, todas as turmas tiveram mais de 100% acima da média, com notas de 6 ou mais de 6”, cita Samária, em relação à forma como os resultados impactaram rapidamente no conhecimento adquirido pelos alunos. Além dos avanços especificamente alcançados na matemática, a leitura e a escrita são destaques que também devem ser reconhecidos.