Simpósio Nacional de Cultura Escrita Digital movimenta debates sobre ensino dentro do contexto do digital

Conectando Redes de Conhecimento sobre Leitura e Escrita Digital foi o tema desta primeira edição do evento, que ocorreu na FaE/UFMG


     

Acontece • Quinta-feira, 13 de Junho de 2019, 16:56:00

 
O I Simpósio Nacional de Cultura Escrita Digital, organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura Escrita Digital (Nepced), vinculado ao Ceale, reuniu nos últimos dias 11 e 12, na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, pesquisadores, estudantes de graduação e professores da Educação Básica para debates sobre a presença digital nos processos de ensino da leitura e da escrita na atualidade. Em seu primeiro dia de evento, foram realizadas duas conferências pela manhã abordando a temática das novas mídias digitais nos processos educacionais. 
 
Júlio César Araújo, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizou a primeira conferência, “Desafios pedagógicos em tempos de discurso de ódio e fake news: diálogos com a BNCC”. Em sua apresentação, Júlio demonstrou como aspectos e acontecimentos presentes nas relações humanas são reproduzidos no ambiente digital. Para o professor, alternativas ao discurso de ódio podem ser encontradas no próprio ambiente digital e este espaço se torna muito importante para a utilização por professores em sala de aula. “Nossa postura precisa ser necessariamente pedagógica e acadêmica no contexto do discurso de ódio digital”, pontuou Júlio sobre a relevância da atuação pedagógica nesse ambiente.
 
 
Na sequência, foi realizada a reprodução do vídeo da fala da professora da Faculdade de Educação da UFMG Isabel Frade (por motivos médicos, a professora não pode comparecer ao evento), também pesquisadora do Nepced, sobre o tema “Alfabetização e cultura escrita digital: quais desafios e questões?”. A professora apresentou os principais questionamentos em relação aos processos de alfabetização que podem aparecer no ambiente digital. Isabel também apontou o estudo da cultura digital em uma abrangência mais ampla, abordando os fenômenos da leitura e da linguagem, da comunicação e também da compreensão da vida cotidiana.
 
Para Isabel, é comum o aparecimento de dúvidas no momento em que ferramentas digitais são utilizadas em atividades e processos que envolvam a leitura e escrita, mas que isso não deve impedir o reconhecimento do potencial que essas novas práticas podem trazer para a alfabetização.
 
À tarde, foram realizadas as sessões de comunicação de trabalhos do primeiro dia, e em sequência ocorreu ‘workshop de inovações’, com apresentação dos aplicativos TecTeca e STORYMAX, voltados para leitura literária para crianças e jovens. 
 
Confira na íntegra os vídeos das conferências e do workshop:
 

 
Leitura e escrita em tempos digitais
 
 
No segundo dia de evento, o dia começou com mais duas palestras: a professora da Faculdade de Letras da UFMG Carla Coscarelli falou sobre multimodalidade e multiletramentos em ambientes digitais e a professora da Faculdade de Educação da UFMG Mônica Araújo discutiu a literatura e a formação de leitores no contexto da cultura digital.
 
A professora Carla começou sua fala destacando algumas ‘lições sabidas de cor’, para orientar o tema de sua palestra. Carla destacou que os índices de leitura de estudantes brasileiros continuam ruins; a importância de se aprender a lidar com as tecnologias digitais, dando exemplos de maus usos tecnologia; e também enfatizou que a aprendizagem nunca esteve limitada ao espaço escolar.
Também para dimensionar a questão, a professora discutiu os dados do PISA sobre estudantes brasileiros (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), informando quais são as dificuldades históricas dos alunos, como fazer inferências sobre informações dos textos analisados, saber ler gráficos, tabelas e formulários, e trabalhar com gêneros pouco familiares a eles.
 
A partir desses dados, Carla explicou que todo texto é multimodal, tendo diferentes cores, formatos, fontes, por exemplo, trabalhando com várias linguagens e estando presente em várias mídias, no formato impresso ou no digital. Para Carla, o digital não apresenta grandes novidades, apesar de ampliar possibilidades. “Não estamos usando o básico”, afirma Carla sobre o que pode ser feito, destacando também que atualmente se recebe muita informação e se produz pouco, em compensação. 
 
Para finalizar, a professora falou sobre o projeto que realiza na Faculdade de Letras da UFMG, o Redigir, voltado para produzir e disponibilizar atividades para professoras realizarem em sala de aula. Dentre os objetivos do projeto estão a formação do leitor e do autor, ampliação do repertório cultural dos alunos e desenvolver habilidades de recepção, percepção e produção. 
 
Acesse o site do projeto para conhecê-lo e ter acesso às atividades: http://www.redigirufmg.org/
 
Literatura no contexto digital
 
A professora Mônica começou sua conferência ponderando sobre o imaginário em torno do que é “considerado literatura”, vinculado muitas vezes à materialidade do livro impresso, à sequencialidade das páginas, ao modo de leitura clássico do leitor sozinho em um ambiente fechado e silencioso e ao acesso de livros através de bibliotecas.
 
Em seguida, Mônica discutiu as permanências e mudanças envolvendo esses pontos em relação à literatura na cultura digital, explicando a diferença entre literatura digitalizada e literatura digital. Segundo a professora, a literatura digitalizada tem níveis de multimodalidade e é uma “remediação do impresso”. A literatura digitalizada pode ser transposta para o impresso, pois é apoiada no texto verbal. Já a literatura digital “é uma obra criada em meio digital para ser lida em meio digital”, explica Mônica.
 
A professora mostrou e indicou as obras digitais Blabla, Little Red Riding Hood by Nosy Crow e o site Ciberpoesia.
 
Após a fala de Mônica, foi lançado o livro “Tecnologias digitais na alfabetização: o trabalho com jogos e atividades digitais para aquisição do sistema alfabético e ortográfico de escrita”, escrito por integrantes do NEPCED.  
 
Rede de textos
 
Na parte da tarde, após as sessões de comunicações, a pesquisadora do NEPCED Julianna Silva Glória realizou a última conferência, que encerrou o Simpósio, sobre produção de escrita no suporte digital.
 
Julianna explicou que os textos produzidos em suporte digital são desterritorializados, híbridos, colaborativos, interativos e têm uma nova ética e estética. Segundo a pesquisadora, há uma explosão de novos gêneros no contexto digital. Para Julianna, é importante discutir e pensar como a escola tem se apropriado da “rede de textos” presente no digital e como inserir esses novos gêneros no currículo escolar. 
 
Em seguida, a pesquisadora mostrou exemplos de atividades de produção de texto em suporte digital, realizadas em pesquisas que participou (algumas dessas atividades podem ser vistas nesta série de vídeos sobre uma das pesquisas). Julianna destacou a importância do planejamento para a realização dessas atividades, e defendeu que o laboratório de informática pode ser um espaço de produção, socialização e discussão de textos. 
 
Confira na íntegra os vídeos das conferências da manhã e da conferência da tarde: