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Levantamento de hipóteses de leitura

Autor: Angela B. Kleiman,

Instituição: Levantamento de hipóteses de leitura,

Durante a leitura, o leitor proficiente levanta hipóteses sobre o texto, segundo suas experiências, vivências e saberes, que são trazidos e mobilizados por ele, na interação com o autor, para extrair e construir significados do texto. Uma hipótese sobre o texto é uma expectativa antecipada, que o leitor forma a respeito do conteúdo do texto, com base no gênero a que este pertence, antes de lê-lo. Durante a leitura, o leitor testa essas hipóteses à medida que vai encontrando novas informações; ele se engaja na atividade e responde ao texto, revisando ou confirmando suas hipóteses iniciais.

A formação de hipóteses de leitura é uma estratégia cognitiva baseada em diversos elementos textuais, explorados antes de começar a ler o conteúdo propriamente dito: a capa do livro, o título, as imagens – fotos, gráficos, tabelas, figuras – que fazem parte do texto, as informações tipográficas e de diagramação, na página ou na tela, como fontes, tamanho das letras, cores. Tudo isso são aspectos em que o leitor se apoia para, junto com os conhecimentos que ele já tem e ativa mentalmente para realizar a atividade de leitura, elaborar hipóteses. Muito importante nesse conjunto de conhecimentos são outros textos que o leitor já leu, do mesmo autor, ou do mesmo gênero, além do conhecimento que ele possui sobre os modos de relacionamento dos diversos sistemas de significação (verbais e não verbais) que se articulam no texto multimodal de hoje.

Desde a Educação Infantil e os primeiros anos do Ensino Fundamental, o professor pode modelar essa estratégia de leitura, no início e durante sua apresentação do texto, e formular perguntas que levem o aluno a levantar uma hipótese (que também é, na maioria das vezes, uma pergunta), a fim de desenvolver essa forma de envolvimento antes e durante a leitura. Assim, o aluno poderá ficar atento às pistas e  aos sinais das respostas às perguntas do professor, discutindo e compartilhando suas opiniões com os colegas da classe. Quando o aluno tem a oportunidade de se engajar num diálogo que lhe permite perceber as relações entre seus conhecimentos prévios – o que ele já sabe – e novos conhecimentos via leitura de textos, ele será capaz, um dia, de formular suas próprias hipóteses, com autonomia, além de revisá-las, se assim for necessário.

Em geral, o professor faz muitas perguntas depois da leitura, mas as perguntas antecipadas,  que podem gerar as hipóteses sobre o texto, poderiam orientar o aluno no seu percurso – muitas vezes meio às cegas – pelo texto. Os aspectos focalizados nas perguntas tornam-se salientes, memoráveis e fornecem objetivos para a atividade, se, por exemplo, os alunos são orientados a ler para checar se o texto valida determinada hipótese ou para refletir sobre uma hipótese e revisá-la, caso necessário. No período de alfabetização, há um vasto repertório de textos que podem ser apresentados, de gêneros diversos – entre eles, contos, notícias, regras ou instruções. Quanto mais familiarizados com o texto, maior possibilidade terão os alunos de antecipar hipóteses sobre o que ele vai tratar, ou reelaborar hipóteses a partir do contato com o texto. Saber fazer a leitura dos sinais desde a capa, o título, as imagens, a diagramação é um procedimento que pode ser utilizado sistematicamente na alfabetização.


Verbetes associados: Antecipação na leitura (predição), Conhecimentos prévios na leitura, Gêneros e tipos textuais, Leitor proficiente, Multimodalidade, Texto


Referências bibliográficas:
KLEIMAN, A. B.; MORAES, S. M. Leitura e Interdisciplinaridade: Tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de letras, 1999.
KLEIMAN, A. B. Texto e Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes Editores, 2013.

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