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Pontuação

Autor: Cancionila Janzkovski Cardoso,

Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso-Rondonópolis / Departamento de Educação,

A pontuação é um subsistema da língua escrita, utilizado para delimitar ou segmentar unidades textuais do tamanho do parágrafo, da frase e, ainda, unidades sintáticas no interior da frase, tendo um papel de planejamento textual desde o processo inicial de apropriação da escrita. É constituída por sinais ideográficos, não pronunciados e carregados de sentidos.

A apropriação da pontuação ocorre em estreita relação com outros aspectos da apropriação do sistema de escrita alfabética, fazendo-se presente desde as primeiras tentativas de escrita pela criança. E já nas primeiras realizações textuais, a criança apela para a pontuação não apenas em sua função sintática, mas também, na textual e na polifônica, sempre levando em conta a interação com o interlocutor.

Um bom escritor possui habilidade para efetuar uma segmentação que aumenta a legibilidade do texto. Todo discurso remete a um referente (aquilo que é descrito ou relatado ou argumentado) que é objeto de uma representação mental do enunciador, sempre multidimensional. Por exemplo, ao lembrar de uma experiência vivida, o sujeito revê globalmente as pessoas, os lugares, o tom das vozes, as cores, os cheiros, os sentimentos; no entanto, no momento da produção de um texto sobre essa experiência, seja ele oral ou escrito, as operações cognitivo-linguísticas desencadeadas devem tomar uma forma estritamente linear e dependente do tempo: devem se materializar em unidades linguísticas, sendo que, em um dado momento, uma só informação pode ser emitida. O problema essencial com o qual se debate o enunciador/escritor é o de compatibilizar a estrutura linear das informações no discurso com a estrutura não linear e multidimensional de seu universo mental.

O ato de escrever, portanto, envolve operações de textualização-linearização, momento em que se dá a construção efetiva do texto, o colocar o pensamento em frases e em palavras. Destacam-se nesse processo as operações de conexão/segmentação, que têm por característica comum ‘pontuar’ o discurso e funcionar como ‘cimento’ que rejunta as unidades separadas, articulando-as ao contexto. Os principais recursos que representam essas operações são os organizadores ou articuladores textuais (enquanto, portanto, já que, deste modo, assim etc.) e os sinais de pontuação.

Um dos grandes problemas que os alfabetizandos enfrentam ao escrever está relacionado ao fato de que o aumento da quantidade de informação que desejam colocar no texto exige que encontrem estratégias de segmentação do texto em unidades menores, mantendo, no entanto, a coesão e a coerência. Aos poucos a criança descobre que, quando se trata de escrever sozinha, em frente a um papel em branco, não pode formular seus enunciados da mesma maneira que o faz oralmente, quando se dirige a alguém que está a sua frente e pode pedir mais explicações. Do ponto de vista pedagógico, considera-se que essa aprendizagem necessita de ensino sistemático e dar-se-á de modo significativo quando centrada no trabalho com diferentes gêneros textuais, na perspectiva do letramento.


Verbetes associados: Alfabetização, Apropriação do sistema de escrita alfabética, Articuladores textuais, Convenções da escrita, Paragrafação, Produção de textos escritos,


Referências bibliográficas:
CARDOSO, C. J. A socioconstrução do texto escrito: uma perspectiva longitudinal. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002.
CHACON, L. A pontuação e a demarcação de aspectos rítmicos da linguagem. DELTA, São Paulo: EDUC, v. 13, n. 1, p. 1-16, 1997.
KATO, M. A. A busca da coesão e da coerência na escrita infantil. In: KATO, M. (org.). A concepção da escrita pela criança. Campinas, SP: Pontes, 1992.
ROCHA, I. L. V. O sistema de pontuação na escrita ocidental: uma retrospectiva. DELTA, São Paulo: EDUC, vol. 13, n. 1, p. 83-117, 1997.

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