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Protocolos de Leitura

Autor: Leiva de Figueiredo Viana Leal,

Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP,

Entender o que significa protocolo ajuda significativamente ao professor na elaboração de práticas pedagógicas que favorecem o desenvolvimento da capacidade de compreensão em leitura. A expressão protocolos de leitura será aqui considerada em duas acepções: a primeira advinda da Psicolinguística e a segunda, dos Estudos Culturais. Ambas permitem lidar com uma questão crucial na leitura: a compreensão.

À Psicolinguística interessa reconhecer o que se passa na mente das pessoas quando leem. Nesse sentido, a expressão é um empréstimo de uma técnica de pesquisa em leitura que objetiva, através de perguntas indiretas, obter dados sobre os processos usados pelo leitor no momento da leitura. Protocolos são, assim, instrumentos elaborados que levam o leitor a explicitar o que se passa em sua mente enquanto faz a leitura. O objetivo é que o sujeito descreva as estratégias usadas em sua interação com o texto escrito; ‘pense em voz alta’ sobre suas próprias estratégias de leitura. Respostas a esses protocolos podem ser verbalizadas oralmente ou por escrito: ideias sobre o texto que será lido, sensações e reações relacionadas a palavras ou a outras pistas que o texto oferece (título, subtítulo, imagens), sobre dificuldades ou facilidades no entendimento de determinadas expressões ou palavras desconhecidas, a respeito das relações entre o texto e seus conhecimentos prévios.

Do ponto de vista pedagógico, a elaboração e a utilização de protocolos de leitura são fundamentais para garantir uma das bases da compreensão da leitura, além de se constituírem em estratégias valiosas para intervenção pedagógica. Algumas delas podem ser construídas pelo professor, quando este incentiva os alunos a anotarem, às margens do texto, suas perguntas ou ideias e a registrarem marcas gráficas como traços ou símbolos que possam representar seus movimentos de leitura de um texto.

Enquanto na visão da Psicolinguística o protocolo é um instrumento elaborado pelo interlocutor, na perspectiva dos Estudos Culturais – representada por Chartier, entre outros autores – os protocolos são marcas, pistas e elementos já presentes no texto, em especial os literários, como um conjunto de dispositivos, denominados protocolos de leitura. Tais dispositivos objetivam definir quais devem ser as interpretações corretas e o uso adequado do texto pelo leitor. Eles se materializam em dois tipos: o primeiro refere-se aos elementos que determinado autor apresenta no texto, conforme as suas intenções. Por exemplo, a utilização de itálico, maiúsculas e títulos, que tentam chamar a atenção do leitor para algo que se julga importante. São também protocolos os dispositivos tipográficos: a presença das ilustrações – quais são elas e como dialogam com o texto –, a disposição, as fontes e a divisão do texto.

Outro tipo de protocolo de leitura encontra-se na própria matéria tipográfica, em geral de responsabilidade do editor. De um lado, notas de rodapé, utilização de itálicos e negritos, comentários em orelhas e capas. De outro, inclusão de instruções, observações e chamadas ou remissões editoriais, explicações que podem delimitar a interpretação do leitor. Do ponto de vista pedagógico, o professor pode ajudar os alunos a perceber e compreender tais elementos, em práticas cotidianas de sala de aula, quando os incentiva a se manifestarem sobre como interpretaram as partes ou o todo de um texto, a partir de seus formatos, títulos, imagens e outros elementos. Isso poderá interferir na compreensão da leitura e na formação de leitores mais competentes.


Verbetes associados: Antecipação na leitura (predição), Compreensão leitora, Leitor proficiente, Leitura colaborativa, Levantamento de hipóteses de leitura, Saliência textual


Referências bibliográficas:
CHARTIER, R. Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.
GALVÃO, A. M. O.; BATISTA, A. A. G. (orgs.). Leitura: práticas, impressos, letramentos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
LEFFA, V. J. A pesquisa em leitura – análise de protocolos. In: Aspectos da leitura: uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 1996.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

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