"As crianças de 0 a 6 anos estão saindo da invisibilidade"

Mesa “Mediações de Leitura Literária na Primeira Infância” abre o terceiro dia do Jogo do Livro


     

Acontece • Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015, 19:06:00

Ler é importante, é um direito, independente da idade. Mas para as crianças que estão na primeira infância (0 a 6 anos), fase na qual ainda não estão preparadas para ler sozinhas, essa prática pode parecer inútil. Defender a importância de possibilitar acesso à leitura a elas, então, é uma tarefa que especialistas na educação infantil ainda precisam assumir. Mônica Correira Baptista, professora da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, acredita que a existência de uma mesa focada na primeira infância é uma evidência da maior presença desse público nas discussões da área da educação. “Essas crianças estão aparecendo, saindo da invisibilidade na área educacional e nas questões relativas à linguagem, escrita e literatura”, afirmou Baptista, na abertura da primeira mesa de sexta-feira (20) do XI Jogo do Livro.

Carolina Machado Momm, professora no Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), iniciou as falas expondo seu trabalho desenvolvido com crianças da primeira infância na universidade, focado em crianças de 0 a 3 anos. Amparada em pensamentos do filósofo Walter Benjamin, a professora encara como um grande desafio ao educar uma criança encontrar um equilíbrio entre a tradição e a renovação. “O que elegemos e como ensinamos as crianças?”, indaga Momm. Porém, defende acreditar nas crianças e ouvir os interesses delas, mesmo que as leituras para os mais novos necessite de maior direcionamento das professoras, e propõe uma relação mais horizontal entre aluno e professor. Em meio a um contexto no qual os livros infantis estão bastante submetidos a lógicas mercantis, que produzem livros moralizantes e didatizantes, a professora defende que é preciso “dar outra visão para as crianças” e “mostrar o mundo com tudo o que ele comporta, com todas suas contradições”.

Carolina Machado Momm afirmou a necessidade de apresentar visões diferentes das oferecidas pelo mercado editorial para as crianças na leitura

Na sequência, Fabíola Farias, coordenadora da Rede de Bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (MG) e, questionou o senso comum de que ler é importante, no que é consenso a importância, mas os motivos não são claros. Para ilustrar por que considera importante, Farias contou a história de Jella Lepman, uma alemã judia que fundou a Biblioteca Internacional da Juventude de Munique. Lepman, após a Segunda Guerra Mundial, começou a conseguir doações de livros e montou um carro-biblioteca para levar livros às crianças que perderam tudo na guerra. “O que ela queria ao oferecer livros diante de tanta carência?”, indaga. Farias acredita que ao fazer isso, Lepman dá para as crianças um jeito de enfrentar a vida. “A história do outro é em certa medida a minha também, porque faço parte do mundo”, afirma. Farias também argumentou que a mediação é definida como uma ponte entre o leitor e o livro, mas que se essa definição pode apresentar uma visão de mundo harmônica desse encontro, também devem ser apresentados pelas professoras os conflitos, contradições que fazem parte dessas mediações.

Fabíola Farias defendeu sua visão sobre a importância da leitura

Mônica Baptista apresentou o projeto de pesquisa “Letramento Literário na Educação Infantil”, de sua coordenação, que tem como objetivo central capacitar professores no letramento literário de crianças de seis meses a cinco anos de idade, observando a analisando as práticas pedagógicas dessas professoras na utilização de acervos de leitura literária, em espaços escolares, e devenvolvendo estratégias de capacitação a partir disso. Em seguida, a professora da FaE fez uma leitura do livro ilustrado “Raposa”, de Margaret Wild e Ron Brooks, e convidou os ouvintes a interpretarem a complexidade das ilustrações e do texto apresentados, apresentando, depois, uma gravação da leitura do mesmo livro com crianças, para discutir quais mediações são feitas com elas.

Mônica Baptista refletiu sobre as dificuldades de mediar a leitura com crianças