Caminhando e refletindo

Editorial do jornal Letra A 44


     

Letra A • Terça-feira, 22 de Dezembro de 2015, 16:19:00

O jornal Letra A comemora o marco de uma década de circulação contínua, sempre perseguindo o objetivo primeiro de estabelecer diálogos produtivos entre professores de diversos níveis de ensino sobre os temas da alfabetização, do letramento e da cultura escrita. Isso significa dar continuidade a um projeto de debater as práticas de leitura e de escrita em contextos escolares e não escolares com a intenção de melhor entendimento dos condicionantes sociais e históricos que situam essas práticas, especialmente no universo da escola pública brasileira. Nesse momento de celebração, a análise cronológica do percurso dos debates registrados nas inúmeras páginas produzidas ao longo desses anos revela a concretização da ideia de que estamos diante de um fenômeno complexo que merece ser discutido, de modo que as reflexões produzam debates conceituais e metodológicos consistentes, distanciando-se de um prescritivismo que apenas idealiza uma prática de ensino a partir de um horizonte teórico único. Ao contrário, a gama de temas, de abordagens e de vozes assumida nesta publicação permite concluir que as muitas facetas da alfabetização, do letramento e da cultura escrita foram e estão sendo apresentadas. Sob inspiração de Magda Soares, esses temas são problematizados a partir uma natureza multifacetada, o que projeta mais algumas décadas de contínuo e permanente ‘estado de reflexão’. Por essa razão, uma estratégia presente nesse número comemorativo foi a de darmos voz mais direta aos nossos interlocutores, indagando-lhes quais são os principais questionamentos sobre a alfabetização. Questões enviadas por professores de todas as regiões do Brasil foram encaminhadas à professora Magda Soares que, em um contexto de entrevista, dialogou com perguntas que expressaram questionamentos contemporâneos dos professores. Com esse procedimento, foi possível realizar uma dupla tarefa. Em primeiro lugar, entra em cena, novamente, a nossa primeira entrevistada do primeiro número, referendando o nosso pressuposto de contínua reflexão sobre temas que legitimamente ocupam as nossas agendas de pesquisa e de trabalho e demonstrando que o percurso histórico recontextualiza e reconfigura temas e abordagens, trazendo novos desafios para alimentar o debate. Em segundo lugar, pela natureza das perguntas e das respostas, destacam-se a amplitude e a complexidade envolvidas nos processos de ensinar e de aprender a ler e a escrever, o que demanda um diálogo multidisciplinar. Nesse diálogo emergem, por um lado, certas especificidades que focalizam uma determinada faceta desse processo, o que exige um olhar mais especializado, e, por outro lado, certos movimentos mais integradores, principalmente quando se consideram o aprendiz e as metodologias de ensino.

Além de um eixo temático permanente que mobiliza essa publicação, é inegável a presença de fóruns mais circunstanciados, o que evidencia a sua natureza mais jornalística. Assim, considerando a importância da pauta atual sobre a proposição de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o jornal Letra A apresenta textos em diferentes seções que conceituam o currículo e mapeiam o histórico dessa ação no ordenamento jurídico, além de reunir, na reportagem principal, várias posições sobre as definições educacionais e políticas envolvidas nessa ação. Nas discussões sobre a BNCC está evidenciada a dificuldade em se harmonizar visões que situam o global e o local, nos movimentos de generalização e particularização. Assim, são avaliados os diversos graus de ‘fechamento’ e de ‘abertura’ da proposta em discussão. Nesse cenário de avaliação de uma ação política, talvez fique mais evidente a necessidade de refletir para se caminhar: um lema que, com muita intensidade, frequenta as nossas páginas.