Ceale Debate traz pesquisadora norte-americana

Menos fantasia, mais realidade: Melissa Wilson fala sobre a produção de textos não ficcionais em sala de aula


     

Acontece • Segunda-feira, 10 de Junho de 2013, 16:00:00

A última edição do Ceale Debate trouxe a pesquisadora da Ohio State University (EUA), Melissa Wilson, que apresentou a palestra Formando escritores de textos de não ficção: conversas em torno de um modelo cultural da escrita. A percepção de que textos não ficcionais são pouco explorados em sala de aula, tanto para leitura quanto para escrita, foi o que levou Melissa a estudar esse tipo de produção orientada pelo alfabetizador. Segundo a pesquisadora, “os textos de não ficção são aqueles que nos ajudam a compreender o mundo em que vivemos”. Após a palestra, que foi traduzida por Maria Lúcia Castanheira, houve tempo para que os professores e demais presentes fizessem perguntas à Melissa e expusessem suas opiniões e experiências.

Através da observação de turmas da educação infantil, com base nas teorias interacionais de que o aprendizado é socialmente construído, Melissa criou um modelo cultural para o desenvolvimento de escritores de não ficção desde a infância. De acordo com o modelo, o primeiro passo é incentivar que as crianças formulem questões sobre algum tema de seu interesse (um animal, um fenômeno da natureza ou o histórico familiar, por exemplo). A etapa seguinte é responder às perguntas utilizando diversas fontes, como livros, sites, especialistas no assunto e até conversas com os colegas e o professor, além da experiência com o ambiente local. Na última etapa, as crianças devem escrever aquilo que entenderam sobre o tema com as próprias palavras, muitas vezes com a ajuda de um texto base.

"Observando um livro sobre plantas, um aluno se perguntou 'como nascem as maças?'. Então a tarefa dele foi pesquisar para responder a própria pergunta. No final, ele confeccionou um cartaz com ilustrações e pequenos textos que explicavam o ciclo de produção da macieira.", conta a pesquisadora, que usou o modelo para desenvolver uma pesquisa com crianças de cinco e seis anos em sala de aula.

Ao final da apresentação, Melissa propôs a reavaliação do que se costuma pensar sobre a relação que os pequenos estabelecem com a linguagem científica: ao contrário do que diz o senso comum, a produção de textos informativos não é muito difícil para eles, e muito menos desinteressante. “Quando se cria um ambiente favorável ao questionamento e são oferecidos recursos [fontes de informação] às crianças, elas adotam e adaptam esses recursos. Mostram ser capazes de escrever textos de não ficção." Esses textos ajudam o professor a entender como a criança concebe o mundo que a rodeia. Além disso, possibilitam perceber como os alunos constroem o processo de escrita a partir de diversas fontes, selecionando e cortando argumentos, utilizando novo vocabulário ou buscando explicar com as próprias palavras. Nesse sentido, a pesquisadora incentiva os professores alfabetizadores a trabalhar com a escrita de não ficção em sala de aula, na compreensão de que é um gênero tão importante quanto a leitura e a escrita literárias.


O Ceale Debate é um evento mensal que envolve pesquisadores e professores em discussões temáticas sobre o ensino e o aprendizado da leitura e da escrita. As palestras acontecem na Faculdade de Educação da UFMG e a entrada é gratuita, mediante inscrição pelo e-mail cealedebate2013@gmail.com.