Saco vazio não para em pé

Condições precárias de trabalho são um entrave à formação de professores em todo o Brasil


     

Acontece • Quinta-feira, 11 de Julho de 2013, 17:09:00

“Eu sou mãe porque tenho um filho, mas meu filho não tem mãe. Sou esposa, porque tenho um marido, mas meu marido não tem esposa. E sou filha da minha mãe, mas minha mãe também não tem uma filha. Eu não trabalho dois turnos por opção, mas porque um turno não me dá condições de sobreviver”. O testemunho é de uma professora alfabetizadora.

Foi com depoimentos como esse que Ana Caroline de Almeida ilustrou sua fala na quarta mesa redonda do I CONBAlf, realizada na noite de terça-feira (9) e dedicada ao tema da formação de professores. A professora da rede municipal de Tiradentes (MG) usou sua trajetória profissional como exemplo das condições de trabalho de pelo menos 20% dos professores que atuam na educação básica no Brasil. “Os professores também têm muito a dizer para a academia”, afirmou Ana Caroline. Ela defende que o piso salarial muito baixo (e grande parte das vezes não cumprido) e os planos de carreira que não valorizam a profissão são sérios entraves à formação dos professores.

Helena Costa Lopes de Freitas, pesquisadora da Unicamp, faz coro às críticas de Ana Caroline. “As políticas públicas não tem colaborado no sentido de garantir a formação do professor na jornada de trabalho”, ela afirma. Para a pesquisadora, é preciso que o professor tenha condições asseguradas para ingressar em cursos de graduação e programas de formação continuada. “Igualdade de condições é diferente da igualdade de oportunidades. Um dos grandes desafios atuais é oferecer a todos os professores as mesmas condições objetivas para que possam frequentar cursos de formação inicial e continuada.”

Formação de qualidade

Telma Ferraz Leal, pesquisadora da UFPE, trouxe à tona também um questionamento em relação à qualidade de muitos dos programas de formação continuada. De acordo com a pesquisadora, a tônica de documentos curriculares produzidos por secretarias de educação de todo o país é bastante interessante. “Grande parte desses documentos coloca a necessidade de trabalho com os textos de circulação social, com a inserção em práticas significativas de leitura e escrita”. Ainda assim, há diversos programas de formação de professores que são vendidos a essas mesmas secretarias e partem de uma concepção de alfabetização muito distante dos documentos oficiais, oferecendo uma abordagem altamente prescritiva por meio de métodos sintéticos, por exemplo. Helena completa: “Quanto menos o professor for formado, mais o empresariado pode entrar com material pronto”.