Pensar as inovações pedagógicas a partir das escolas: potencialidades e desafios

O Ceale Debate de abril abordou fatores históricos e sociais que interferem na transformação da educação em Cabo Verde


     

Acontece • Quinta-feira, 24 de Abril de 2014, 16:24:00

O primeiro Ceale Debate de 2014, ocorrido na noite do dia 22 de abril, recebeu Osvaldino Monteiro, professor caboverdiano do Ensino Secundário em seu país - ou Ensino Médio, como chamamos no Brasil. Atualmente, Osvaldino é doutorando em Teoria e História da Educação pela Universidade de Santiago de Compostela. Ao apresentar sua pesquisa, ele buscou questionar a forma como a educação caboverdiana é pensada: “Estamos em condições de continuarmos a insuflar a educação com retóricas inovadoras de cima para baixo? Sem levar em consideração os docentes que labutam todos os dias e realmente sabem quais práticas funcionam e quais não?”
 
Durante a palestra, o professor relatou muitas dificuldades em relação às políticas públicas de educação em seu país. As dificuldades históricas do estabelecimento de instituições públicas, as heranças da colonização e as debilidades das escolas de formação de professores foram temas explorados. Para ele, a solução para esses problemas é inverter a forma como a educação é pensada atualmente: de cima para baixo, segundo sua avaliação. Para inverter essa lógica, ele defende que se deve empoderar os docentes na possibilidade de inovar a educação para transformá-la. Um exemplo interessante comentado por Osvaldino foram escolas que, percebendo a distância dos pais de suas instalações, se deslocaram para a comunidade a fim de atrair os familiares para as reuniões e outras atividades pedagógicas. “As pequenas inovações se inserem em setores e podem promover processos criativos muito mais alargados. O que falta são mecanismos de acompanhamento para sistematizar essas alternativas que, aos olhos dos outros, podem ser pequenas, mas nós temos que tratar daquilo que temos”, afirmou Osvaldino.

Durantes as perguntas feitas pela plateia, incluindo intervenções de dois estudantes caboverdianos em intercâmbio no Brasil, destacou-se o problema em torno das línguas correntes em Cabo Verde. No país, o crioulo das diferentes ilhas constitui a língua materna, mas devido à colonização, Portugal impôs seu idioma, que hoje é o oficial. Por isso, os livros são produzidos em português e poucas produções são feitas em crioulo, mesmo o Hino Nacional é cantado em português. Osvaldino ponderou inclusive sobre a justiça na avaliação e no aprendizado dos alunos que dominam sua língua materna e têm mais dificuldade de aprendizado em português. Apesar de não estar otimista sobre a possibilidade de vencer essa debilidade em curto prazo, ele não deixou de dizer que “o desenvolvimento do país só tem sentido quando baseado na cultura de seu próprio povo”.

Confira aqui o esquema da apresentação desenvolvida por Osvaldino Monteiro

Próxima palestra: O Ceale Debate é um evento que acontece mensalmente na FaE/UFMG. O próximo Ceale Debate ocorrerá no dia 7 de maio. A palestra "Organização de bibliotecas para a primeira infância: as contribuições de duas experiências mexicanas" será ministrada pesquisadoras mexicanas Beatriz Soto e Edith Corona. Os interessados em participar devem se inscrever, enviando o nome completo para o e-mail cealedebate2014@gmail.com.