Por uma educação integrada à comunidade

Experiência do Projeto Burareiro de Rondônia põe em discussão os desafios da educação integral


     

Acontece • Quarta-feira, 16 de Outubro de 2013, 14:58:00

“É preciso perceber que quatro horas é pouco para oferecer uma formação multidisciplinar e criadora. Por isso, educação integral não pode ser encarada apenas como tempo extra na escola para tirar a criança de influências ruins da rua”. Esse foi o tom da apresentação de Lara Cristina Cioffi, que relatou a experiência da educação integral no município de Ariquemes, RO, aos participantes do Seminário Teias da Cidadania. A professora e pesquisadora rondoniense apresentou o projeto Burareiro, primeira experiência de educação integral do estado, que foi implantado em 2005 e hoje atende a cerca de 2 mil alunos do município.

O Projeto Burareiro foi criado por um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Rondônia e implantado pela prefeitura. As atividades são divididas em três eixos: os estudos orientados (reforço escolar), artes e cultura e atividades esportivas e motoras. Há ainda atividades complementares como: educação ambiental, horta e saúde. O aluno escolhe uma por eixo. Capoeira, fanfarra e música são os mais procurados.

Mais Educação

Os recursos e o acompanhamento eram realizados a nível local até 2009, quando o projeto ingressa no Programa Mais Educação, do Governo Federal. Mesmo assim, o projeto Burareiro guarda importantes diferenças do programa do Ministério da Educação.

Os alunos do projeto Burareiro ficam por dez horas na escola, enquanto o Programa Mais Educação prevê sete horas de atividades. Lara ressalta ainda outras diferenças: “Enquanto no programa do MEC, os monitores são voluntários, os nossos são remunerados. Assim evitamos a alta rotatividade de profissionais que gera descontinuidade nas atividades”.  Além disso, o projeto Burareiro oferece em média 22 atividades por escola. “A média do Mais Educação é de seis atividades”, aponta.

O projeto de Ariquemes se baseia em quatro princípios: a politecnia; a ampliação do tempo, espaço e oportunidade; a escola como eixo integrador da comunidade e construção de projeto pedagógico a partir de um conselho gestor multidisciplinar. “Trabalhamos com a ideia de que, se a escola absorve tantas demandas sociais e tanta responsabilidade, então vamos assumir isso e fazer com qualidade”, afirma Lara.

Desafios

A integração dos currículos e a formação dos professores são questões chave que precisam ser encaradas na educação integral “Como queremos que o aluno seja multidisciplinar com professores especialistas?” questiona Lara. A solução desses problemas implica em uma maior dedicação dos professores e valorização profissional, já que é comum professores trabalharem em três escolas simultaneamente por conta dos baixos salários.

Um outro problema é a garantia de recursos públicos para a educação integral, tendo em vista que muitos projetos perdem continuidade com as mudanças eleitorais dos prefeitos. Lara acredita que é preciso uma maior responsabilização do Governo Federal e dos estados, com garantia de infra-estrutura para as atividades e condições para que as crianças utilizem também os espaços públicos da cidade para as aulas, uma proposta da educação integral.

Além disso, é preciso assegurar a gestão democrática nas escolas, com a participação da comunidade. “Se a criança fica na escola por dez horas, é preciso ouvir e dialogar com a família. O que acontece é que muitas vezes a comunidade não é ouvida e depois ficamos nos queixando de que ela não participa”, aponta a pesquisadora. Integrar o conhecimento da escola com as tradições da comunidade também deve ser o objetivo de uma gestão democrática.