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Apresentação

Glossário

O Glossário CEALE - termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para educadores - que apresentamos, foi definido, a partir de várias possibilidades dicionarizadas, como “conjunto de termos de uma área de conhecimento e seus significados” Por sua função pedagógica, relacionada à atuação do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) na formação inicial e continuada de professores, na pesquisa e na documentação, foi concebido para ser um apoio aos processos de ensino e aprendizagem da alfabetização, leitura e escrita. Os principais destinatários da publicação são os professores da Educação Infantil e dos anos do Ensino Fundamental que estão envolvidos nos processos da alfabetização e do letramento. Dessa forma, não se trata de assumir que fazemos uma divulgação científica de conceitos importantes para a área, que compõem nosso repertório, mas de realizar o esforço, nem sempre fácil, de projetar implicações pedagógicas e educacionais de determinados conceitos e procedimentos.

Nos últimos trinta anos, uma geração de professores, pesquisadores, formadores de professores, autores de livros e materiais didáticos acompanhou o crescimento das pesquisas e algumas mudanças paradigmáticas que provocaram movimentos no campo da Alfabetização, Leitura e Escrita, decorrentes da complexidade do ato de ensinar e aprender a ler e escrever. Várias repercussões dessas mudanças estão publicadas em livros, artigos, documentos oficiais, livros didáticos e já fazem parte do vocabulário corrente de educadores. Assim, acreditamos que não estamos envolvidos na tarefa de divulgação científica de inovações: estamos em um momento de consolidação de vários paradigmas e de práticas que se valeram e se valem desse contexto de produção de novas ideias. No entanto, vários conceitos, procedimentos e práticas que foram se disseminando no mundo acadêmico e na prática pedagógica estão dispersos em diferentes materiais. Daí a necessidade e o desafio da recolha e da reunião dessas reflexões, organizadas em um Glossário.

Conforme o prefácio de Magda Soares, se a glosa nos leva para o campo do explicativo, de produzir anotações para auxiliar na compreensão de um termo, o Glossário nos leva para a ideia de reunião e seleção de um repertório de definiçoes que imaginamos ser de interesse de educadores.

Esse repertório abrange inúmeras áreas de conhecimento. Processos de alfabetização e letramento, por sua própria natureza multifacetada, exigem, afinal, contribuições diversificadas, de muitos referenciais: antropologia, sociologia, psicologia, linguística, psicolinguística, sociolinguística, tecnologias da informação, linguagens da comunicação educativa, entre outros. Além disso, são muitos os campos e eixos de ensino que requerem abordagens com claras implicações pedagógicas: as concepções de língua e de ensino de língua, de texto e discurso, os eixos de produção e leitura de textos, oralidade, literatura e muito mais. Tudo isso se expressa nas políticas públicas, nos projetos pedagógicos, na organização curricular, na avaliação da aprendizagem, em instrumentos e materiais pedagógicos, em recursos convencionais e de vanguarda, metodologias, atividades...

Nossa seleção de termos, no entanto, não pretende esgotar as referências consideradas necessárias para compor um campo de conhecimento pedagógico relacionado ao ensino e à aprendizagem da leitura e escrita.

O Glossário CEALE se valerá da ordem alfabética, à moda dos dicionários, e de determinadas compilações que buscam facilitar a consulta do leitor e, com esse objetivo, adotamos o gênero textual verbete para compor nossa publicação. A composição do verbete busca contemplar a definição do termo, a contextualização ou problematização da definição, quando pertinente, e referências à aplicação do conceito na prática pedagógica. Na parte pós-textual, complementa-se com verbetes associados, para facilitar a remissão a outros termos, e com referências bibliográficas.

Do ponto de vista da estrutura escolhida para retomar conceitos e procedimentos que imaginamos ser de interesse dos educadores, nosso Glossário não se posiciona como apêndice de um texto, com a função de explicar termos que ocorrem nesse texto. Este Glossário é o próprio texto, e tem autonomia frente a outros textos de um mesmo material. O leitor também tem autonomia para consultá-lo de várias maneiras. A forma mais convencional seria uma leitura de consulta, tal como se usa um dicionário, selecionando-se diretamente o verbete que interessa. Outras possibilidades poderão surgir a partir de leituras conectadas, quando as remissões feitas em determinado verbete, por meio da indicação de “verbetes associados”, poderão levar a novas leituras, para fins de informação pontual ou mesmo de pesquisa temática. Ressalte-se que certa flexibilização intencional perpassou a produção. Ao invés de uma perspectiva rígida ou canônica, buscou-se assegurar espaço autoral para diferenças de posições teóricas, metodológicas ou mesmo de estilo. Assim, a diversidade temática exigiu diversidade de formatos, extensões, remissões e referências bibliográficas para aprofundamento.

Do ponto de vista da materialidade, reforçamos a importância de alguns aspectos na forma de leitura e nos modos de manuseio. O tema da materialidade é objeto privilegiado de pesquisas fora da área educacional, sobretudo na área denominada história do livro e da leitura, porque o formato tem intensa relação com a atitude corporal, com os modos de ler e de receber um texto. Quando o Glossário se apresenta em forma de livro em capa dura, o que isso enseja é a ideia de conservação, para possibilitar consultas ao longo de um período de tempo maior que o possibilitado por publicações periódicas. Assim, ele tem também o sentido de maior permanência, pois, afinal, conceitos e procedimentos em educação, embora se alarguem cada vez mais, não mudam rapidamente e se relacionam a processos de longa duração. Por isso, evitamos circunscrever as abordagens a políticas situadas no atual contexto, que podem ser mais efêmeras – a não ser quando sua institucionalização seja uma referência de longo alcance – e mantivemos conceitos que parecem banidos de uma concepção dita inovadora, mas que fazem parte da história e da cultura pedagógica.

Sobre os critérios que definiram as escolhas de termos a serem explicados, houve um intenso trabalho de pesquisa lexical, desenvolvido em torno de materiais de formação docente do próprio Ceale, de publicações especializadas como o Jornal Letra A e as coleções para formação continuada, de documentos de formação de circulação nacional, como o material do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa, entre outros. Nessa leitura atenta dos materiais destinados a professores que ensinam a língua portuguesa no primeiro segmento do Ensino Fundamental e, sobretudo, nos materiais para alfabetizadores, foram captadas as ressonâncias conceituais, a recorrência de alguns termos, a repetição e renomeação que acaba se tornando necessária para a variedade de vocabulário, mas que pode deixar o leitor professor com algumas dúvidas: a mudança de termos para designar um fenômeno se relaciona com alguma vertente teórica diferente? Quer dizer outra coisa?

Na pesquisa também descobrimos termos pouco trabalhados com professores, como aqueles relacionados à literatura ou à linguística, por exemplo. No processo de produção, também apareceram ideias para novos termos: na cadeia de sentidos a serem explicitados, foram aparecendo outros. O objetivo de também contemplar modalidades de ensino inicial da escrita e seu desenvolvimento, como a Educação Infantil, o Primeiro Segmento do Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos, fez com que alguns termos que não apareciam na pesquisa fossem incorporados. Essa é a riqueza do trabalho de interlocução mobilizado na seleção de termos e conceitos. Nessa escolha também pesou a ideia de que, embora essa produção se localize no tempo atual e possa gerar a ideia de que trabalhamos priorizando as inovações, há questões clássicas que repercutem no vocabulário e nas práticas pedagógicas dos educadores e, por esse motivo, também foram incluídos verbetes que exploram conceitos e procedimentos que permanecem e convivem com teorias e metodologias mais recentes. Com esta recolha de termos, que dá espaço à pluralidade teórica, esperamos contribuir para uma formação que não se rende a modismos conceituais e novidades pedagógicas.

Buscando efetivar o princípio de acesso à bibliografia citada, foram privilegiados textos mais acessíveis aos professores, em língua portuguesa, na forma de periódicos, livros e sites, mas em certos casos isso não foi possível, pois também contamos com a participação de autores de outros países, que escrevem a partir de sua realidade. Em alguns verbetes, buscamos construir um olhar comparativo entre a realidade brasileira e outras. Em verbetes de caráter histórico, utilizamos referências e fontes que não são mais acessíveis, pois os textos não foram republicados.

A escolha dos autores dos verbetes foi decidida por sua representatividade na área de pesquisa e de formação de professores, pelas indicações de autores convidados e pelas interlocuções que estes vêm estabelecendo com o CEALE em vários projetos: de produção de livros e materiais didáticos, de seminários de pesquisa, de atividades de ensino - enfim, em projetos que o nosso Centro desenvolve desde 1990. A participação dos autores representa uma homenagem a inúmeros parceiros que se ocupam e preocupam com o ensino da escrita no Brasil. A expectativa é que possamos continuar contribuindo com a formação de professores com um material menos ligado a determinada política ou a problemas emergenciais. Num momento em que o CEALE e várias universidades do País buscam responder às demandas nacionais para a melhoria da educação, a produção do Glossário foi uma escolha institucional própria, que garantiu vários momentos de aprendizagem e reflexão. Afinal, é um privilégio dialogar com pesquisadores e professores, com tantos autores brasileiros e internacionais.


Isabel Cristina Alves da Silva Frade
Diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE)
Faculdade de Educação/ UFMG

Maria da Graça Ferreira da Costa Val
Faculdade de Letras/UFMG - CEALE

Maria das Graças de Castro Bregunci
Faculdade de Educação/ UFMG – CEALE