< ir para o sumário

Prefácio

A que serve um glossário? Por que e para que um glossário?

A etimologia da palavra glossário é elucidativa: sua origem é a palavra glosa que, no latim, designava anotações acrescentadas a um texto para esclarecer um termo ou um trecho considerado obscuro ou de difícil compreensão. Nos antigos manuscritos, as glosas eram introduzidas entre as linhas do texto ou, se longas, dispostas em uma coluna à sua margem. Assim se colaborava com os poucos leitores do passado, os poucos leitores, nos tempos que precederam a invenção da imprensa: inseriam-se glosas explicando, esclarecendo o texto, linha a linha, página a página.

Assim também hoje se busca colaborar com os agora muitos leitores dos numerosos impressos que sucederam à invenção da imprensa: oferecendo-lhes glosas, não mais interlineares ou em colunas margeando o texto, mas reunidas em glossários em que elas, as glosas, rebatizadas como verbetes, têm objetivo semelhante ao que tinham no passado: explicação de termos e conceitos que, porque complexos, ou porque recentemente introduzidos em uma área de conhecimento, ou ainda porque reconceituados pelo avanço dos conhecimentos, demandam ou merecem esclarecimento.

Atente-se, porém, para o título do glossário que aqui se prefacia, e pode-se perguntar: este é um glossário de termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores... que glosas são necessárias para termos que, em princípio, todo educador domina?

Um olhar aos termos que nomeiam os verbetes deste glossário poderá responder a essa pergunta. Depreende-se deles o quanto os campos da alfabetização, da leitura e da escrita se ampliaram nas últimas décadas, quantos novos conceitos e novas teorias enriqueceram esses campos, quantas reconceitualizações e ressignificações de princípios e fundamentos. É que os processos linguísticos e cognitivos da aprendizagem da língua escrita, do desenvolvimento de estratégias e habilidades de leitura e de escrita tornaram-se, a partir sobretudo dos anos 1980, objeto privilegiado das ciências linguísticas – da Fonologia, da Psicolinguística, da Sociolinguística, da Teoria do Discurso, da Linguística Textual, da Pragmática, da Semântica, entre outras –e também objeto privilegiado das ciências psicológicas – da Psicologia Cognitiva, da Psicologia do Desenvolvimento, da Psicogênese, das Neurociências – e ainda objeto privilegiado dos Estudos Socioculturais, que se voltam para o contexto de práticas e usos sociais e culturais de leitura e escrita.

A ampliação de conhecimentos nos campos da alfabetização, da leitura e da escrita, resultado de pesquisas e estudos em tão diferentes áreas, tem repercutido, naturalmente, na educação e no ensino, levando à introdução de novos conceitos e teorias, a propostas de novos procedimentos e, sobretudo, a uma nova e mais profunda compreensão dos processos de aprendizagem da língua escrita, de formação de leitores e de produtores de textos.

Há, então, muitos termos que estão a exigir glosas... muitos conceitos, muitas teorias, muitas alternativas metodológicas que estão demandando esclarecimentos, apoio para uma mais completa compreensão dos renovados campos da alfabetização, da leitura e da escrita. É o que este glossário pretende oferecer aos educadores: que as glosas lhes sejam apoio em sua tarefa-missão de alfabetizar e formar usuários competentes da língua escrita.


Magda Becker Soares
Professora Emérita da Faculdade de Educação da UFMG
Fundadora do CEALE/ FaE/ UFMG