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Discurso

Autor: Sírio Possenti,

Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP / Instituto de Estudos da Linguagem-IEL,

Discurso é o enunciado ou texto produzido em uma situação de enunciação e determinado pelas condições históricas e sociais. Nem sempre nos damos conta, mas é relativamente fácil demonstrar que dizemos “bom dia” ao primeiro encontro, que falamos de eleição em época de eleição, de Copa de quatro em quatro anos, que lamentamos acontecimentos dramáticos que acabam de ocorrer, que falamos dos assuntos que estão em pauta (numa conversa ou nos jornais, conforme o caso), que se fala de gramática nas aulas de Português, de genes nas de Biologia, do descobrimento do Brasil nas aulas de História, ou em abril. Ou seja: não se diz qualquer coisa a qualquer momento, ou não fazemos frases “com a palavra pato”, como naquela tarefa da escola de antigamente.

A situação de enunciação pode ser uma interlocução entre duas pessoas, como uma compra numa loja. Observe-se a diferença entre uma compra real e uma aula sobre o que dizer ao comprar. Mas pode ser também uma situação mais ampla, como “época das eleições / da crise política na Europa”. Em cada caso, as condições definem o que é relevante dizer e como o que é dito é usualmente compreendido.

Pode-se resumir esta concepção dizendo que todo discurso é situado. Uma longa tradição escolar analisou textos ou enunciados sem considerar quando foram proferidos, por quem o foram, contra ou a favor de quais outros enunciados. Isso implicava basicamente uma análise da forma do texto e de seu conteúdo. Mas levar em conta a situação e o contexto histórico permite compreender melhor como um texto funciona – o que significa, se apoia ou critica outros etc. Esses fatores explicam por que algo foi dito (não se falava de vacina nem de direitos das mulheres na Grécia antiga; a literatura realista propõe linguagem e enredos diferentes dos que propõe a literatura romântica) e qual é o sentido do que foi dito.

Considerar o discurso é contrapor-se a só considerar o texto e os elementos que o compõem: quantos parágrafos tem? a qual gênero pertence? Ou a só perguntar pelos sentidos gerais do texto: em “o menino leu o livro”, o que fez o menino? quem leu o livro? O principal efeito pedagógico desta concepção é ir além da leitura do conteúdo expresso para descobrir o que eventualmente está implícito no texto: se é uma informação, uma resposta, a quem se dirige (há jornais e revistas para grupos sociais diferentes, por exemplo).


Verbetes associados: Compreensão leitora, Gêneros do discurso, Interdiscursividade, Intertextualidade


Referências bibliográficas:
FIORIN, J. L. O pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.
MAINGUENEAU, D. Análise dos textos de comunicação. São Paulo: Cortez Editora, 2000.
MAZIÈRE, F. A análise do discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

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