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Gêneros literários para crianças

Autor: Maria Zélia Versiani Machado,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

A linguagem focalizada sob a perspectiva dos gêneros textuais se apresenta como matéria suscetível a classificações.  Dessa forma, textos e discursos podem ser identificados de acordo com os usos e as funções que eles ganham nas situações comunicativas. Aquilo que é estável em um gênero textual, ou seja, os elementos que nos levam a reconhecer uma notícia, um conto de fadas, um anúncio, uma lenda, uma frase de para-choque de caminhão ou uma fábula, por exemplo, resultam de experiências compartilhadas social e historicamente. Os estudos de gêneros literários buscam identificar estabilidades que podem ser reconhecidas, podendo favorecer a compreensão dos textos lidos e ouvidos que a literatura oferece.

Para Bakhtin, os gêneros não possuem formas fixas ou imutáveis. Eles possuem um grau de instabilidade, por isso o autor preferiu defini-los como “tipos de textos relativamente estáveis”. Essa dinâmica de constituição dos gêneros dá vida às criações literárias que reinventam gêneros narrativos e poéticos, por meio da oralidade e da escrita. Nas classificações, deve-se considerar, portanto, a força histórica orientadora do modo de agrupar e organizar o que se quer compreender, que pode não ser a mesma para todas as sociedades e culturas.

            A literatura infantil que hoje se publica para crianças bebeu em fontes variadas da tradição literária, que se atualizam criativamente a cada geração de leitores – daí a importância de identificá-las. Os nomes Contos de fadas, Contos maravilhosos, Contos da Mamãe Gansa, Contos da Carochinha são algumas dessas formas de classificar que carregam uma história. Falar de gêneros da literatura pressupõe, assim, o diálogo com a tradição e com formas orais e escritas do texto literário, produzidas para crianças em diferentes épocas.

            Por ter a literatura infantil o adjetivo que especifica o seu endereçamento, por muito tempo ela foi tomada como um “gênero”, o que, de certa forma, ocultava a heterogeneidade de gêneros que a constituía. Vale ressaltar que o conjunto de textos que nomeamos como “literatura infantil” possui uma gama variada de gêneros literários que confirma essa heterogeneidade: fábulas, poemas, contos, lendas, entre outros. Hoje podemos encontrar – dentro das amplas denominações “poesia e narrativas para crianças” –, uma série de propostas que desafiam os leitores no permanente jogo de aproximações e rupturas que a literatura favorece em relação à tradição. No processo de renovação das histórias para crianças, observam-se modificações e, em alguns casos, até mesmo cerceamentos, que apontam concepções de infância predominantes em cada época.

            Convém, ainda, ressaltar que os gêneros da literatura infantil se caracterizam pelo equilibrado diálogo entre as imagens visuais e o texto verbal. Essa configuração, que lhe é peculiar, instaura modos de ler sensíveis aos efeitos produzidos pelo e no entrelaçamento dessas linguagens. Para isso, é preciso contar com a percepção de elementos como a cor, as formas, os traços da composição visual, tomados como componentes das escolhas de estilo que dividem as páginas com os textos verbais.


Verbetes associados: Experiência estética literária, Gêneros e tipos textuais, Leitura literária, Letramento Literário, Literatura infantil, Mediação literária na Educação Infantil, Modos de ler na infância, Poesia infantil


Referências bibliográficas:
BAKHTIN, M. M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
COELHO, N. N.. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
CUNHA, M. A. A. Literatura infantil: teoria e prática. São Paulo: Ática, 1991.
HUNT, P. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

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