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Literatura oral

Autor: Josiley Francisco de Souza,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Literatura oral é uma expressão utilizada para designar um conjunto de textos em prosa e verso transmitidos oralmente (contos, lendas, mitos, adivinhações, provérbios, parlendas, cantos) e que se apresentam de modo diferente do falar cotidiano. Esse termo foi empregado pela primeira vez no século XIX, pelo francês Paul Sébillot, no livro Littérature Orale de la Haute-Bretagne, publicado em 1881.

Cabe destacar que a presença da palavra literatura nessa expressão acaba por suscitar discussões. Literatura tem sua origem em littera, palavra do latim cujo significado é “letra”. Desse modo, literatura refere-se a um conjunto de saberes, ou habilidades, que se relacionam com a leitura e a escrita. Coloca-se, assim, a questão: não seria uma incoerência utilizar uma palavra que se refere à cultura da letra para designar expressões que são transmitidas oralmente?

Como observa Jack Goody, o termo literatura aplicado ao oral configura-se como um uso feito em uma sociedade letrada na busca por equivalentes em culturas orais. Historicamente, as preocupações com o registro de textos de tradição oral têm início no século XVIII, na Europa, quando foram feitos os primeiros registros de narrativas orais. Esses registros foram realizados no âmbito de pesquisas que buscavam uma “literatura primitiva”, vinculada às origens da história ocidental. Nessa perspectiva, a literatura oral seria identificada com as origens da literatura escrita. Convencionou-se, assim, a aplicação do termo literatura a expressões identificadas com a arte verbal, ainda que estas não se transmitam pela escrita.

No Brasil, a primeira publicação dedicada ao registro da literatura oral foi feita em 1876, quando o general Couto de Magalhães publicou O selvagem, estudo sobre o índio brasileiro, acompanhado de uma coletânea de 25 narrativas tupis. Entretanto, o termo literatura oral aparece pela primeira vez em 1952, como título de um livro dedicado a estudos de expressões orais no país, Literatura Oral no Brasil, de Luís da Câmara Cascudo, autor cuja obra é referência para os estudos sobre as tradições orais no Brasil.

É importante considerar que, apesar de o termo literatura oral vincular-se a expressões orais, não se faz pertinente instaurar uma oposição entre oralidade e escrita. É possível encontrar diferentes ocorrências de entrecruzamentos entre oralidade e escrita em nossa própria tradição literária, quando, por exemplo, personagens e histórias de tradições orais são transcriados por autores de textos de ficção.

Na alfabetização, tais entrecruzamentos se revelam importantes. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) dos anos iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo, aproximam o ensino da escrita da oralidade, ao sugerir a valorização da cultura oral como forma de iniciar o aluno no mundo da escrita, apresentando perspectivas teórico-metodológicas que envolvem a narração e a escuta de histórias, o levantamento de narrativas que circulam nas famílias e o trabalho com gêneros orais, tais como cordel, canções e parlendas. Cabe lembrar ainda a existência de diferentes publicações que trazem para o impresso personagens de histórias transmitidas oralmente no Brasil − curupira, lobisomem, mula-sem-cabeça e outras−, que se configuram como interessantes recursos em atividades de alfabetização.


Verbetes associados: Contação de histórias, Interação verbal, Oralidade, Oralidade e escrita , Produção de textos orais, Reconto


Referências bibliográficas:
ALMEIDA, M. I.; QUEIROZ, S. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica; FALE/UFMG, 2004.
CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984.
GOODY, J. O mito, o ritual e o oral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
ZUMTHOR, P. Introdução à poesia oral. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

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