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Método global

Autor: Isabel Cristina Alves da Silva Frade,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

O método global integra o conjunto dos métodos analíticos que se orientam no sentido do todo para as partes. Defende que a criança percebe as coisas e a linguagem em seu aspecto global, que a leitura é uma atividade de interpretação de ideias e que a análise de partes deve ser um processo posterior.  

No final do século XIX e início do XX, o método global encontra sólido apoio na teoria de Decroly, psicólogo e educador belga, para quem a aprendizagem das crianças ocorreria através de observações, associação e expressão de ideias. Outro apoio ao método é atribuído ao psicólogo suíço Claparède, que defendia dois grandes princípios, baseados na teoria alemã da Gestalt, ou da ‘forma’: ir do simples para o complexo significa ir do todo às partes; a palavra e a frase oferecem à criança uma configuração total, ou um perfil geral necessário a esse movimento. 

É possível verificar pontos comuns entre os defensores dos métodos denominados analíticos/globais: 1) a linguagem funciona como um todo e as partes somente têm sentido em função de uma unidade; 2) existe um princípio de sincretismo no pensamento infantil: primeiro percebe-se o  todo e depois as   partes; 3) os métodos de alfabetização devem priorizar a compreensão; 4) no ato da leitura, o leitor  utiliza  estratégias globais de reconhecimento; 5) o aprendizado da escrita não pode ser feito por fragmentos de palavras, mas por seu significado;  6) a escola tem que acompanhar os interesses, a linguagem e o universo infantil e, portanto, as palavras percebidas globalmente também devem ser  familiares e ter sentido  para a criança.

Em São Paulo, adota-se oficialmente o “método analytico” na primeira década do século XX. A Cartilha Analytica de Arnaldo Barreto associa o ensino da leitura ao ensino de “Lições de Coisas”, ou método intuitivo, defendendo que a educação deveria passar pelos sentidos e pela observação, e usa textos com sentenças descritivas de imagens, que deveriam ser reconhecidas em posições horizontal, vertical e desordenadas, sob a influência da Cartilha de Arnold, da autora americana Sarah Louise Arnold. 

O método global de contos/historietas foi divulgado por Lúcia Casasanta, em Minas Gerais e no Brasil, desde 1930, aproximadamente. O Livro de Lili, de Anita Fonseca (1940) exemplifica as etapas/fases a serem seguidas pelos adeptos do método, com algumas variações: fase da história – reconhecimento global de um texto (feito juntamente com as crianças ou produzido por um autor), que é memorizado e “lido” durante um período; fase da sentença – reconhecimento e  identificação rápida de sentenças do mesmo texto,  que depois são recortadas e remontadas; fase de porção de sentidoreconhecimento de expressões em sentenças conhecidas; fase de palavração – reconhecimento de palavras  nas sentenças e depois  decomposição/recorte de sentenças em palavras – fase da silabação, que ocorreria quando as crianças já tivessem feito vários exercícios de observação de semelhanças e diferenças entre as palavras. Na fase de decomposição de sílabas de palavras concretas e conhecidas, não poderia ser abandonada a leitura pelo sentido das outras historietas e textos suplementares. Tomando como foco o sentido, somente após um convívio mais prolongado com o texto é que viria uma forma de decomposição; assim, a fase de palavração viria depois da terceira historieta, por exemplo.

Na atualidade, enfatiza-se  que os textos têm que ser aqueles que circulam na sociedade e não inventados para efeitos de ensino; as crianças devem ler e escrever na escola para desenvolver diferentes funções sociais e gêneros da escrita. Os professores têm recuperado metodologias semelhantes às do método global, utilizando a apresentação de histórias, parlendas, advinhas e outros textos para que as crianças memorizem, montem e desmontem frases e depois identifiquem palavras que serão decompostas.


Verbetes associados: Gêneros e tipos textuais, Métodos e metodologias de alfabetização, Sentido, significado e significação


Referências bibliográficas:
BELLENGER, Lionel. Os métodos de leitura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação (UFSM), v. 32, p. 21-40, 2007.
MACIEL, F. I. P. Alfabetização e Métodos ou métodos de alfabetização? Guia da alfabetização. Revista Educação. n. 2, São Paulo: S/D p. 46-60.
MORTATTI, M. R. L. Os sentidos da alfabetização. São Paulo: INESP/CONPED/INEP, 2000.

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