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Zona de desenvolvimento proximal

Autor: Maria das Graças de Castro Bregunci,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Zona de desenvolvimento proximal (ZDP) é um conceito central na Psicologia sociocultural ou sócio-histórica, formulado originalmente por Vygotsky, na década de 1920. Na explicitação mais difundida, a ZDP é descrita como a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver tarefas de forma independente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado por desempenhos possíveis, com ajuda de adultos ou de colegas mais avançados ou mais experientes.  

Esse enunciado tem sido amplamente apropriado em práticas educativas, sobretudo no campo do planejamento de estratégias de ensino, com ênfase em interações que os professores estabelecem com seus alunos em sala de aula, e no campo da avaliação de aprendizagem, com implicações que merecem ser destacadas. 

Uma primeira implicação é o reconhecimento da existência de um nível real de desenvolvimento, ou seja, das habilidades ou competências já alcançadas. No campo da alfabetização, por exemplo, a observação de professores ou os registros de instrumentos de diagnóstico de desempenho enfatizam uma visão retrospectiva, ou seja, buscam aferir habilidades já consolidadas: a criança já reconhece o princípio alfabético? Lê palavras com autonomia? Escreve frases ou textos simples?

Além desse nível, existe outro, menos diretamente observável, mas de importância pedagógica inequívoca: o desenvolvimento potencial ou proximal. Trata-se, aqui, de inferir a capacidade de realizar tarefas e resolver problemas com ajuda ou mediação de outros. De imediato, ressalve-se que o termo potencial não se confunde com qualquer noção inatista pré-determinada; expressa o campo do desenvolvimento ‘possível’, em condições e contextos favoráveis. A observação de situações de brinquedo ou de trabalho em duplas ou grupos de alunos que se encontram em diferentes níveis de desenvolvimento e aprendizagem oferece ricas oportunidades para tais inferências. Um exemplo é o tipo de ajuda oferecido por uma criança que já se apropriou do princípio alfabético (ou seja, que reconhece que, em nosso sistema de escrita, as letras substituem segmentos sonoros menores, os fonemas) a outra criança que ainda concebe nossa escrita de forma silábica (ou seja, que supõe que apenas uma letra pode representar graficamente um segmento da fala ou sílaba). As mudanças qualitativas de desempenho, nessas condições, expressam-se em novas hipóteses formuladas pelos alunos após tais interações e mediações. Situações similares podem ser observadas em diversos eventos interacionais em torno da escrita e da leitura, envolvendo mediações de adultos com maior experiência ou proficiência,  no contexto escolar ou fora da escola.

Uma relevante implicação pedagógica decorrente do enunciado da zona de desenvolvimento proximal é a interdependência dos processos de desenvolvimento e aprendizagem. Esta seria uma região de funções emergentes, ainda não consolidadas no desenvolvimento atual e observável dos aprendizes, mas que podem se manifestar em função de certas condições: ampliação de conhecimentos e experiências prévias das crianças; acesso a bens culturais diversos; processos interativos que possibilitem o benefício das aprendizagens colaborativas.

Para Vygotsky, a “boa” aprendizagem e o “bom” ensino deveriam sempre operar sobre níveis superiores de zonas de desenvolvimento proximal. Assim, o ensino tem papel fundamental na mudança das condições do desenvolvimento e não se confunde com uma perspectiva ‘espontaneísta’ que apenas respeite níveis atuais de aprendizagem, sem uma visão prospectiva, que considere expectativas mais amplas de conhecimentos a serem adquiridos na escola. Quando se trata de escolarização inicial, é grande o alcance dessa formulação, pois os complexos desafios da inserção em uma cultura escolar e da apropriação da cultura escrita exigem mediadores sensíveis às oportunidades de ampliação de desempenhos e de abertura a novos possíveis.


Verbetes associados: Apropriação do sistema de escrita alfabética, Avaliação Diagnóstica, Construtivismo, Evento interacional, Interação, Mediação literária na Educação Infantil, Mediadores de leitura , Psicogênese da aquisição da escrita


Referências bibliográficas:
BAQUERO, R. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um processo sócio-histórico. São Paulo; Scipione, 1998.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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