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Alfabetização digital

Autor: Isabel Cristina Alves da Silva Frade,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

O termo alfabetização digital tem sido usado para designar um tipo de aprendizado da escrita que envolve signos, gestos e comportamentos necessários para ler e escrever no computador e em outros dispositivos digitais.

Podemos pensar numa alfabetização feita com instrumentos digitais, em ambiente digital e no contexto de letramento digital. Os instrumentos digitais trazem novas formas de produção, transmissão, circulação e divulgação dos escritos. No caso da alfabetização digital, se entrecruzam o uso do instrumento de registro, os usos sociais da escrita, os sistemas de representação (letras, sinais gráficos, ícones, cores, sonoridades, imagens fixas e em movimento) no mesmo suporte – e estas formas interferem mutuamente no gesto de escrever e no pensamento sobre o funcionamento da escrita.

Algumas pesquisas empreendidas por Emília Ferreiro evidenciam que o computador não interfere no conceito de representação da escrita alfabética. No entanto, seu uso influencia o aprendiz em várias questões: na noção de espaçamento e nas decisões sobre a disposição do texto em página; na experimentação de formas, cores e tamanho das letras; na percepção das marcas e correções automáticas de ortografia. Tendo em vista que a multimodalidade é muito potencializada no ambiente digital, a inter-relação entre signos sonoros, verbais e visuais pode exigir maior articulação entre sistemas ideográficos e alfabéticos. Com novos recursos de sonorização é possível que a criança explore as relações de simultaneidade entre o que tecla e/ou fala e o produto escrito que vê. Isso poderá, futuramente, interferir ainda mais no aprendizado do sistema de escrita.  

A escrita no computador parece fazer parte de saberes não ensinados na escola, pois vários gestos presentes na cultura digital são aprendidos através de jogos, brinquedos eletrônicos, celulares, operações no comércio e bancos, e  outras tecnologias móveis (como ligar, desligar, clicar, tocar em ícones, arrastar, baixar programas). Entretanto, a criança precisa e pode dominar diferentes técnicas relacionadas ao que se chama de usabilidade: aprender a lidar com as ferramentas do sistema para ligar a máquina; compreender o teclado, seus símbolos e a função de cada tecla para além de digitar as letras; operar com a tela, interagir com ícones, localizar programas, manusear o mouse de adulto com suas mãos pequenas (sabendo que ele tem mais de uma função), arrastar, clicar e desenvolver operações cognitivas que permitam memorizar e internalizar tais operações. Essas operações provocam efeitos nos escritos e na tela e, consequentemente, no conhecimento sobre o funcionamento mais técnico do novo instrumento de escrita. Esse tipo de alfabetização digital é um dos componentes do letramento digital, e ambos precisam ser ensinados na escola.    

Instrumentos como lousas, penas de ganso, lápis, cadernos, folhas, entre outros, provocaram pequenas revoluções nas modalidades de escrita e em seu ensino. A alfabetização contemporânea já está alterada pelo ambiente digital e por essa nova configuração tecnológica e a escola tem uma grande contribuição a dar nesta questão.


Verbetes associados: Instrumentos de escrita, Letramento digital, Letramento visual, Multimodalidade, Sistemas de escrita, Suportes da escrita, Textos visuais


Referências bibliográficas:
FERREIRO, E. Alfabetização digital. Do que estamos falando. IN: FERREIRO, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito. São Paulo. Cortez, 2013.
FRADE, I. C. A. S. Alfabetização digital: problematização do conceito e possíveis relações com a pedagogia e com aprendizagem inicial do sistema de escrita. In: COSCARELLI, C. e RIBEIRO, E. (orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
GLORIA, J. S. Influências e confluências do uso do suporte de escrita digital na alfabetização de crianças do 1º ano do primeiro ciclo. 2011. Tese (Doutorado em Educação) UFMG, Belo Horizonte: 2011.

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