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Conhecimento linguístico

Autor: Daniela Mara Lima Oliveira Guimarães,

Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),

O funcionamento de uma língua envolve a articulação de vários componentes: a relação entre os sons (fonologia), a estruturação de palavras (morfologia), a organização das palavras em frases (sintaxe), o significado das palavras (semântica). Além destes, temos o conhecimento textual-discursivo que se refere aos modos de produção e recepção dos textos em diferentes situações de comunicação. O conhecimento desse funcionamento da língua é, para os falantes, um conhecimento implícito, derivado de uma capacidade de linguagem que nos permite adquirir e dominar uma língua. É importante, assim, diferenciar conhecimento linguístico de conhecimento da gramática normativa.

O conhecimento linguístico é compartilhado por todos os indivíduos falantes de determinada língua. Por exemplo, todos nós, falantes de português, usamos o artigo antes do substantivo, como na frase ‘o menino chegou’. O artigo depois do substantivo nunca é usado, e frases como ‘menino o chegou’ não ocorrem. Esse conhecimento é parte do saber do falante nativo. Já a gramática normativa diz respeito a normas e prescrições que, em muitos casos, diferem da realidade da língua cotidiana. Portanto, conhecimento linguístico é diferente de conhecimento da gramática normativa.

Na alfabetização, tanto nos processos de leitura quanto na produção de texto, o aprendiz usa o conhecimento que tem da linguagem oral aliado às hipóteses que constrói sobre o funcionamento da língua escrita. Na leitura, o conhecimento linguístico atua de forma a permitir que o leitor estabeleça relações entre grafemas e fonemas, compreenda o sentido das palavras e das sentenças, relacione os significados entre os parágrafos e, também, faça uso de estratégias de antecipação. Por exemplo, se o aluno encontra no texto a palavra mas, ele necessita do conhecimento fonológico e ortográfico que o faz identificar os grafemas, relacioná-los aos fonemas formando uma sílaba e confrontá-los com uma realidade fonética; necessita, ainda, do conhecimento do sentido deste termo dentro do contexto da frase. Da mesma forma, na escrita, o conhecimento linguístico permite grafar palavras a partir da relação grafema-fonema, construir frases e textos.

Na alfabetização, o conhecimento linguístico é constantemente (re)construído quer seja porque vai ocorrer inevitavelmente um confronto entre as modalidades oral e escrita, quer seja porque muito do conhecimento implícito ganhará uma maior explicitação. Assim, torna-se fundamental ao professor saber refletir sobre a língua e seu funcionamento para que possa compreender as hipóteses dos aprendizes.


Verbetes associados: Fonética, Fonologia, Gramática, Morfologia, , Semântica, Sintaxe


Referências bibliográficas:
OLIVEIRA, M. A. Conhecimento linguístico e apropriação do sistema de escrita.Belo. Horizonte: Ceale/Fae/UFMG, 2005.
PERINI, M. A. Sofrendo a gramática. Ensaios sobre a linguagem. São Paulo: Ática, 1997.
TRAVAGLIA, L. C. Nas trilhas da gramática: conhecimento linguístico e alfabetização. São Paulo: Cortez, 2013.

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