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Consciência fonológica na alfabetização

Autor: Artur Gomes de Morais,

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco-UFPE / Centro de Estudos em Educação e Linguagem-CEEL,

Além de usar a linguagem para atender nossos propósitos comunicativos, podemos tomá-la como objeto de reflexão e assumir diante dela uma atitude metalinguística.  Entre várias dimensões metalinguísticas, uma, que é fundamental para que um aprendiz se alfabetize, é a capacidade de refletir sobre os segmentos sonoros das palavras que pronunciamos, isto é, a consciência fonológica. Tal consciência é um conjunto de habilidades variadas. Variam quanto à operação mental que o aprendiz realiza: pronunciar um a um os segmentos que compõem a palavra, contar, identificar ou produzir “partes sonoras” parecidas, adicionar ou subtrair segmentos sonoros. Variam quanto ao tamanho do segmento sonoro, que pode ser uma rima (mato/gato), uma sílaba (cavalo, casaco) ou um fonema (sapo, c). E variam, ainda, quanto à posição (início, meio, final) em que aparecem nas palavras. 

Estudos realizados com crianças brasileiras demonstram que, para desenvolver uma hipótese silábica, os aprendizes precisam segmentar as palavras em sílabas orais, contá-las, observar os sons que compõem aquelas sílabas, a fim de buscar letras que poderiam notar os mesmos. Para avançar em direção a uma hipótese alfabética, e aprender os valores sonoros convencionais das letras, o aprendiz precisa observar os fonemas que compõem as sílabas orais das palavras. Isto não significa que seja necessário pronunciar em voz alta os fonemas, como preconizam os autores dos métodos fônicos. Este tipo de habilidade não é necessário para que alguém se aproprie do Sistema de Escrita Alfabética (SEA).

Se tratamos o alfabeto como um sistema notacional, vemos que a consciência fonológica não é suficiente para uma criança se alfabetizar: ela precisará compreender o que a escrita nota e como produz notações. Este processo começa na Educação Infantil e, no final dessa etapa, as crianças se beneficiam bastante com brincadeiras com quadrinhas, parlendas, trava-línguas e outros textos da tradição oral, nos quais podem observar, por exemplo, rimas e sílabas repetidas. Também se beneficiam com jogos de consciência fonológica, em que comparam palavras orais ou escritas, a fim de ver quais rimam, quais são maiores, quais “começam parecido”. Não se trata de treinar a consciência fonológica das crianças, artificialmente, mas permitir que brinquem com as palavras.

Desde a década de 1980, existe um consenso de que as relações entre a escrita alfabética e a consciência fonológica são de interação. Assim, se para avançar na compreensão do SEA o aprendiz precisa desenvolver algumas habilidades fonológicas, a notação escrita torna mais “visíveis” ou mais observáveis os segmentos sonoros das palavras. Por isso, é importante que as crianças vejam escritas as palavras com as quais estão brincando.


Verbetes associados: Apropriação do sistema de escrita alfabética, Correspondência grafofonêmica, Fonema, Jogos de alfabetização, Método fônico ou fonético, Psicogênese da aquisição da escrita , Realismo nominal


Referências bibliográficas:
BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. A Aprendizagem do Sistema de Escrita Alfabética. Ano 1: unidade 3. Brasília: MEC, SEB, 2012.
NUNES, T.; BUARQUE, L.; BRYANT, P. Dificuldades no aprendizado da leitura: teoria e prática. São Paulo: Cortez, 1992.
MORAIS, A. Sistema de Escrita Alfabética. São Paulo: Melhoramentos, 2012.

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