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Realismo nominal

Autor: Artur Gomes de Morais,

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) / Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL),

Realismo nominal é uma forma de conceber as palavras que não as considera como designações arbitrárias, independentes do tamanho, da aparência ou da utilidade dos objetos, seres ou estados que designam. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, estudando aprendizes que estavam frequentando turmas de alfabetização, pesquisadores de diferentes países constataram que alguns alunos não conseguiam compreender o sistema de escrita alfabética, porque ficavam atrelando as palavras a características físicas ou funcionais dos objetos. Desse modo, acreditavam que trem devia ser uma palavra grande, com muitas letras, porque um trem é enorme; já formiguinha seria uma palavra muito pequena, com poucas letras ou com letras pequenininhas. O realismo nominal desses aprendizes também os fazia pensar que a palavra sofá seria parecida com a palavra cadeira, porque ambos servem para sentar.

Se observarmos bem, vemos que as crianças (bem como jovens e adultos analfabetos) precisam superar o realismo nominal para poder compreender o sistema alfabético. Isto é, como nossa escrita nota a sequência (ou pauta) sonora das palavras que pronunciamos, papai e pato se escrevem parecido, no início, embora o significado de ambas seja tão diferente. Para poder refletir sobre o significante sonoro e entender que as letras substituem as partes internas do mesmo, um indivíduo precisa desconsiderar a aparência ou funcionamento dos referentes (objetos, seres) a que as palavras remetem.

No Brasil, os primeiros estudos sobre o realismo nominal foram feitos por Vilma Bezerra, Terezinha Nunes e Lúcia Browne do Rego, no início da década de 1980. Nas diferentes pesquisas que conduziram, aquelas estudiosas constataram que alunos das camadas populares que fracassavam na alfabetização revelavam realismo nominal e que os alunos alfabetizados com o método silábico tinham mais êxito em superar o realismo nominal que os alfabetizados pelo método fônico.

Hoje podemos considerar que o realismo nominal corresponde a uma fase em que a criança ainda não desenvolveu habilidades de consciência fonológica necessárias para compreender o sistema alfabético. Não há nada de patológico, e todos nós vivemos uma etapa de realismo nominal, antes de nos alfabetizarmos. Contudo, as oportunidades de refletir sobre a forma oral e escrita das palavras (brincando com jogos fonológicos de alfabetização e com os textos poéticos da tradição oral, como quadrinhas e trava-línguas) são fundamentais para ajudar nossos alunos a superarem o realismo nominal e avançarem em sua compreensão do alfabeto.


Verbetes associados: Apropriação do sistema de escrita alfabética, Consciência fonológica, Consciência fonológica na alfabetização, Construtivismo, Jogos de alfabetização, Método fônico ou fonético, Método silábico, Psicogênese da aquisição da escrita


Referências bibliográficas:
BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. A Aprendizagem do Sistema de Escrita Alfabética. Ano 1: unidade 3. Brasília: MEC, SEB, 2012.
CARRAHER, T. N.; REGO, L. L. O realismo nominal como obstáculo na aprendizagem da leitura. Cadernos de Pesquisa. 39:3-10, 1981.

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