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Esferas ou campos de atividade humana

Autor: Roxane Rojo,

Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP / Instituto de Estudos da Linguagem -IEL,

As esferas ou campos de atividade humana ou de circulação dos discursos – já que toda atividade humana se entretece de discursos – são a instância organizadora da produção, circulação, recepção dos textos/enunciados em gêneros de discurso específicos em nossa sociedade. Os gêneros discursivos integram as práticas sociais e são por elas gerados e formatados. Leandro Konder, em seu texto “A dialética e o marxismo”, define as práticas sociais (“práxis”) como a “atividade do sujeito que de algum modo aproveita algum conhecimento ao interferir no mundo,  transformando-o e se transformando a si mesmo”. Nessa perspectiva, as práticas sociais são ações racionais, convocam responsabilidade social, envolvendo uma ética (valores).

Max Weber vai distinguir esferas de atividade/ação/atuação humana e esferas de valores. Para Weber, a sociedade é formada por “indivíduos” e “esferas” bem nítidas; existem os indivíduos e as estruturas sociais criadas pelos indivíduos em interação social (esferas). Weber trata as esferas de atuação humana como esferas de valor (isto é, regidas por diferentes éticas). O que são essas “esferas”? São os campos das atividades humanas centrais que organizam as ações humanas em sociedade, por meio dos discursos e práticas.

Mikhail Bakhtin, em “Os gêneros do discurso”, cita alguns exemplos de comunicação cultural mais complexa: comunicação artística, científica, sociopolítica. Nessa mesma obra, o autor relaciona determinadas condições e funções sociais (científica, técnica, jornalística, oficial, cotidiana), específicas de cada esfera, com a origem e o desenvolvimento de certos gêneros.

Assim sendo, os gêneros de discurso servem ao funcionamento das suas esferas de origem, com suas éticas específicas: íntima, cotidiana, dos negócios, jornalística, publicitária, jurídica, política, sindical, do trabalho, artística, literária, do entretenimento, científica, acadêmica, escolar e assim por diante.

Por essa razão, os referenciais e propostas curriculares mais recentes no Brasil organizam, por vezes, a seleção e o estudo dos gêneros na escola por esferas de circulação, como é o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN de Ensino Fundamental II (BRASIL, 1998).


Verbetes associados: Enunciação / enunciado, Gêneros do discurso, Texto


Referências bibliográficas:
BAKHTIN, M. M. (VOLOCHINOV) (1929). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981.
BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: _____. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306.
KONDER, L. A dialética e o marxismo. Disponível em: http://port.pravda.ru/sociedade/cultura/09-09-2009/27936-dialecticamarx-0. Acesso em: 04/02/2014.
WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
WEBER, M. Metodologia das ciências sociais (Parte 2). São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

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