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Texto

Autor: Márcia Mendonça,

Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP / Instituto de Estudos da Linguagem-IEL,

Texto é uma unidade linguística de sentidos que resulta da interação entre quem o produz e o leitor/ouvinte. Um texto pode ter extensões muito variadas, constituindo-se de uma palavra até de milhares delas e traz marcas que indicam seu início e fim. Embora seja composto de palavras, frases, períodos, ou mesmo unidades maiores, o texto não se define pela soma de suas partes. O que faz uma produção escrita ou oral ser considerada um texto é a possibilidade de se estabelecer uma coerência global, ou seja, de se (re)construir sentidos a partir de um conjunto de pistas apresentadas. As pistas podem ser linguísticas – os recursos coesivos, construções sintáticas, vocabulário, etc. – ou podem ser inferidas da situação de produção desse texto – propósitos comunicativos, interlocutores, gênero discursivo, esfera social de circulação, suporte, etc.

Os textos podem ser verbais – orais ou escritos – ou multimodais, isto é, compostos de mais de uma linguagem, combinando a expressão linguística com música, desenhos, imagens em movimento, entre outras. Os textos orais apresentam recursos de funcionamento semelhantes aos do texto escrito, como a coesão e a coerência. No entanto, em virtude de ser planejado e produzido quase simultaneamente – planejamento on-line – as marcas do planejamento ficam evidentes para o interlocutor. É o caso das correções, dos truncamentos e das hesitações. Tais marcas, próprias da organização do texto oral, se interpretadas erroneamente, podem levar a que se considere a produção oral falha, com erros e problemas de coesão. Na verdade, estudos sobre oralidade nos permitiram perceber que, em vez de problemas, essas características compõem o conjunto de recursos coesivos capazes de indicar aos ouvintes o ‘rumo’ que o texto toma quanto ao tema, por exemplo, o que pode ajudar nas trocas comunicativas realizadas em interações orais.

Para compreender um texto, ou seja, para reconstruir o seu sentido global, é necessário que o leitor/ouvinte procure pistas – explícitas e implícitas – para ajudá-lo a reconstruir os sentidos que ele supõe terem sido os pretendidos por quem o produziu. Nesse processo, algumas das pistas acionadas são os referentes, que indicam o(s) assunto(s) abordado(s), e os elos coesivos estabelecidos, indicadores das relações entre partes do texto, as quais podem ser de consequência, inclusão, concomitância, oposição, entre outras.

De forma semelhante, na elaboração de um texto, entram em jogo os propósitos comunicativos de quem o produz, situados em determinado contexto sociocultural, o que diz respeito ao gênero discursivo a que o texto irá pertencer e à esfera social de circulação. Com base nesse  conjunto de coordenadas, o produtor mobiliza diversas estratégias, que são influenciadas pelas expectativas a respeito das formas de recepção desse texto, isto é, do modo como o leitor/ouvinte o compreenderá. Dessa forma, dependendo de para que e para quem o texto é criado, em que gênero será elaborado e em que esfera circulará, irão variar as pistas selecionadas por quem o produz, assim como devem ser diversificadas as pistas acionadas pelo leitor/ouvinte para entendê-lo.


Verbetes associados: Coerência textual, Coesão textual, Produção de textos escritos, Produção de textos orais, Referente, Textos multimodais, Produção de textos


Referências bibliográficas:
BENTES, A. C. Linguística textual. In: Mussalim, F. e BENTES, A.C.(orgs.). Introdução à Linguística: Domínios e Fronteiras. V. 1. São Paulo: Cortez, 2001. p. 245-287.
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
KOCH, I. V. e ELIAS, M. Ler e compreender: os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

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