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Formação de palavras

Autor: Luiz Carlos de Assis Rocha,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Letras,

A língua portuguesa possui um determinado número de palavras que se encontram à disposição dos falantes, tanto na língua falada quanto na língua escrita. O número de palavras de uma língua é algo difícil de determinar, por dois motivos: muitas palavras deixam de ser usadas, tornando-se arcaísmos, e outras são criadas constantemente, surgindo os neologismos. O processo de criação de novos vocábulos é conhecido como formação de palavras. Há apenas dois mecanismos que permitem o surgimento de um novo item lexical na língua: a formação de palavras – que se serve dos recursos oferecidos pela própria língua – e a importação estrangeira.

Não há consenso entre os autores sobre quais seriam os processos de formação de palavras. Mesmo assim, é possível citar os principais mecanismos que permitem explicar os itens lexicais já existentes e os que podem ser criados. Há três processos em língua portuguesa: a derivação, a composição e a onomatopeia.

A derivação consiste na formação de uma palavra a partir de uma base já existente na língua. É um mecanismo muito produtivo, que abrange vários tipos de processos. Seguem-se algumas definições e exemplos. 1) Derivação sufixal – anexação de um sufixo a uma base: camarada + -agem = camaradagem; bilhete + -agem = bilhetagem; 2) Derivação prefixal – anexação de um prefixo a uma base: hiper- + mercado = hipermercado; hiper- + centro = hipercentro; 3) Derivação parassintética (parassíntese) – anexação simultânea de prefixo e sufixo: des- + osso + -ar = desossar; en- + surdo + -ecer = ensurdecer; 4) Derivação conversiva (conversão ou derivação imprópria) – emprego de uma palavra de uma determinada classe lexical em outra classe: O impossível acontece (o vocábulo impossível, empregado normalmente como adjetivo, é usado como substantivo); 5) Derivação siglada (siglagem ou acronímia) – formação de palavras a partir de grafemas, sílabas ou de excertos de palavras ou bases existentes na língua: PT (Partido dos Trabalhadores. A sequência PT (petê) funciona como uma palavra autônoma da língua.); Febraban (Federação Brasileira de Bancos); Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais); 6) Derivação truncada (abreviação vocabular, truncamento ou truncação) – formação de uma palavra por meio de um corte na base: odonto (odontologia); cesária (cesariana); responsa (responsabilidade).

Outro processo é o da composição, que consiste na criação de uma palavra a partir de duas ou mais bases existentes na língua: salário-família (salário + família); deputado-cantor (deputado + cantor); agrotóxico (agro- + tóxico).

Já a onomatopeia é a tentativa do falante de imitar os ruídos ou movimentos do mundo exterior: miar, sussurrar, zum-zum, farfalhar, tique-taque.

No ensino da língua portuguesa, o processo de formação de palavras ocupa um lugar importante na leitura e produção de textos. Novas criações lexicais que apareçam em textos poderão despertar no aluno o interesse pelo vocabulário não só no reconhecimento de formas já existentes como também na formação de novos itens, contribuindo assim para a sua criatividade lexical. Diante de uma palavra como futebolês, por exemplo, o professor levará o aluno a explorar esse modelo de derivação sufixal, trabalhando com vocábulos como economês, politiquês, carioquês, caipirês etc. Caberá também ao professor esclarecer ao aluno a respeito da conveniência ou não do emprego de novos termos nos vários tipos de texto. De um modo geral, pode-se dizer que a linguagem informal é receptiva a novas formações, mas a linguagem formal só admite novas palavras se elas forem realmente necessárias e se forem formadas de acordo com as regras da língua.


Verbetes associados: Gramática, Léxico, Língua, Morfologia, Palavra, Variação línguística


Referências bibliográficas:
ALVES, I. M. Neologismo: criação lexical. São Paulo: Ática, 1990.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 2009.
CUNHA.C.; CINTRA. L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.

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