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História do ensino das línguas nacionais

Autor: Clecio Bunzen,

Instituição: Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP / Departamento de Educação,

Os diversos sistemas educacionais do Ocidente, ao longo do tempo, sempre priorizaram em seu currículo o ensino de língua. As crianças gregas, por exemplo, aprendiam de cor os poemas de Homero, enquanto os jovens do Império Romano estudavam língua e literatura gregas com um “gramático” ou professor de literatura. No currículo das escolas da Idade Média, entre os séculos XII e XVI, os textos escritos em latim e grego constituíam-se como eixos centrais de um programa educativo que priorizava línguas clássicas, obras e autores antigos e seus modelos.

Durante muito tempo, a língua materna ou língua primeira (aquela que a criança adquire no contexto familiar e nas diversas situações sociais) não era ensinada nas escolas. Em Portugal, na França ou na Inglaterra, por exemplo, as línguas maternas não se constituíam em disciplinas escolares autônomas e estavam praticamente ausentes dos programas, já que um dos principais objetivos era o uso correto do latim e do grego e o bom conhecimento dos clássicos. Tal situação só foi alterada com a implementação de políticas que defendiam o papel das línguas nacionais no processo de escolarização.

No cenário europeu, as línguas oficiais dos Estados-nação adquiriram maior status na constituição dos saberes escolares entre os séculos XVII e XVIII, abrindo espaço para a produção de gramáticas nacionais e dicionários. A Carta Régia de 12 de Setembro de 1757, do Marquês de Pombal, marca, portanto, o nascimento oficial da língua portuguesa, uma vez que oficializa uma língua para o reino de Portugal. Nesse sentido, a Reforma Pombalina, compreendida também como uma política linguística, constitui-se como a maior responsável pelo ensino obrigatório da língua portuguesa. Em um primeiro momento, a língua oficial é ensinada juntamente com o latim nas disciplinas de Gramática, Retórica e Poética. Em um segundo momento, ler e escrever em português, assim como estudar sua gramática, passam a ser “componentes curriculares” e se consolidam como uma disciplina escolar autônoma (“Gramática Nacional”, “Português”, “Comunicação & Expressão”, “Língua Portuguesa”) entre os séculos XIX e XX.

Como disciplina escolar, a língua patrocinada pelo Estado se transformou em objeto de ensino-aprendizagem e as escolhas curriculares sobre o que ensinar, de que maneira e com base em qual perspectiva teórico-metodológica sempre geraram polêmicas, pois não há saberes, normas, competências ou conteúdos neutros. Os currículos (nacionais, estaduais e municipais), os livros didáticos e as aulas são organizados para atender a diferentes objetivos e à multiplicidade de aspectos e componentes essenciais (leitura, produção oral e escrita, literatura, gramática, léxico, ortografia etc.). Nos últimos anos, o ensino de língua tem assumido a finalidade de fazer com que os alunos: (i) compreendam e produzam textos orais e escritos em gêneros específicos; (ii) reflitam sobre os conhecimentos linguísticos e a linguagem de forma sistemática; (iii) construam referências multiculturais, com base em interações com diferentes suportes, mídias e discursos.


Verbetes associados: Alfabetização, Ensino de Língua Portuguesa, Gêneros do discurso, Gramática, Leitura , Língua, Oralidade, Suportes da escrita


Referências bibliográficas:
BAGNO, M. Língua, história e sociedade. In: BAGNO, M. (org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002.
BUNZEN, C. A fabricação da disciplina escolar Português. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, Vol.11, n.34, 2011, p.885-911.
DOLZ, J. GAGNON, R.; DECÂNDIO, F. Uma disciplina emergente: a didática de Línguas. In: NASCIMENTO, E. L. (org.). Gêneros Textuais: da didática das línguas aos objetos de ensino. São Carlos: Claraluz, 2009.
SOARES, M. Português na escola: história de uma disciplina curricular. In: BAGNO, M. (org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002.

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