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Livro de imagens

Autor: Celia Abicalil Belmiro,

Instituição: Faculdade de Educação da UFMG / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE),

O uso das imagens para informar e contar histórias vem de longa data. Na Idade Média, por exemplo, as ilustrações narram acontecimentos nas paredes das igrejas, dando condições aos analfabetos de “lerem” o calvário de Cristo. Atualmente, a produção de literatura infantil em diferentes formatos e mídias tem contribuído para a discussão sobre novos referenciais acerca da leitura literária para crianças e jovens.

As transformações pela quais o objeto livro vem passando dão margem a novos gêneros e novos modos de operar com a realidade ficcional. O livro de imagens (ou livro-imagem) é um desses gêneros; não significa uma coleção de imagens num livro, como um álbum de fotografias ou um catálogo de exposição de artes visuais. No contexto da literatura infantil, e incluindo o adulto como um leitor em potencial desse gênero, o livro de imagens explora recursos visuais e características particulares da imagem, acrescidos, por vezes, do recurso verbal.  Um bom exemplo são os “livros de artistas” que tratam a imagem de uma forma complexa, com carga semântica e múltiplos sentidos, abrindo possibilidades para a experiência estética e literária.

Define-se, então, livro-imagem como um livro com imagens em sequência e que conta uma história, geralmente selecionando uma situação, um enredo e poucos personagens. Constitui-se como uma narrativa visual, que aproxima duas condições básicas para sua realização: a dimensão temporal (sequência linear das imagens) e a dimensão espacial (a lógica de organização espacial dos elementos que compõem as imagens). A possibilidade de o livro de imagens poder contar uma história, de penetrar no mundo do encantamento, faz o tempo do real e da magia conviverem, por exemplo, na mesma página, podendo alterar a lógica temporal e espacial, tudo isso apenas através das imagens. Os códigos imagéticos (como as cores, o traço, o volume, a posição dos objetos na página, entre outros) dão destaque à narrativa, por isso é que se diz que podemos “ler imagens”. E essa leitura não precisa ser simplificada, presa apenas ao enredo, porque a imagem não diz tudo, como alguns ainda pensam. Ela não é somente descritiva, colada à realidade exterior, usada como uma referência da existência dos objetos, mas semanticamente enriquecida para dar às condições de leitura um tempo de reflexão, um espaço de maturação de sentidos. O livro de imagens não precisa explicitar todos os sentidos, mas convida, com seus implícitos e suas metáforas visuais, o leitor a pensar, confiando na sua capacidade leitora.

A produção contemporânea tem mostrado uma tal sofisticação, cuidado e complexidade na elaboração dessas narrativas visuais, que vem chamando a atenção de jovens e adultos, constituindo um outro grupo de ávidos leitores de livros de imagens. Nada mais propício do que aproveitar essa produção, não só para iniciar o contato das crianças não alfabetizadas com o mundo da representação ficcional, como também para agregar leitores jovens e adultos ao mundo da literatura.


Verbetes associados: Bebetecas (bibliotecas para a primeira infância), Efeitos de sentido, Experiência estética literária, Gêneros literários para crianças, Ilustração em livros de literatura infantil, Leitura literária, Letramento Literário, Letramento visual, Literatura infantil


Referências bibliográficas:
BELMIRO, C. A. & DAYRELL, M. Formação de professores e os desafios contemporâneos dos livros de literatura. In: MARTINS et al (orgs.) Livros e Telas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
LEE, S. A Trilogia da margem. O livro de imagem segundo Suzy Lee. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
OLIVEIRA, I. (Org.). O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008.
OLIVEIRA, R. Pelos jardins Boboli. Reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

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