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Ortografia

Autor: Artur Gomes de Morais,

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) / Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL),

A ortografia é uma norma, uma convenção ou acordo social, que unifica a forma escrita das palavras e permite que os leitores continuem lendo-as conforme seus dialetos variados. 

Como a forma de pronunciar as palavras varia conforme a região e o grupo sociocultural, se fôssemos escrever tal como falamos, haveria grandes variações e a tarefa de ler seria dificultada. Um carioca escreveria “tchiô” para notar a mesma palavra que um pernambucano escreveria como “tiu” e que a norma ortográfica fixou como “tio”. Assim como a humanidade criou as escritas alfabéticas e só nos últimos séculos fixou normas ortográficas, as crianças aprendem, primeiro, o sistema de escrita alfabética e depois, durante a educação básica, vão dominando as restrições que a ortografia impõe àquele sistema.

Na ortografia do português temos casos regulares e irregularidades. Nos casos regulares, nossos alunos aprendem compreendendo a regra que permite escrever palavras com segurança. No grupo das regularidades diretas (P, B, T, D, F, V), não há outra letra ou dígrafo disputando a notação daqueles sons. Já no caso das regularidades contextuais (por exemplo, G ou GU, C ou QU, R ou RR, M ou N em final de sílaba), é a posição na palavra que vai definir qual grafia será adequada. Finalmente, temos ainda as regularidades morfológico-gramaticais que envolvem palavras formadas por sufixos (por exemplo, tristeza se escreve com Z, enquanto portuguesa se escreve com S) e algumas flexões verbais (como o R dos infinitivos que não pronunciamos, o U final dos verbos cantou, comeu e dormiu, o uso de AM ou ÃO na terceira pessoa do plural dos tempos verbais).

Paralelamente, temos também irregularidades que foram definidas pela etimologia da palavra ou pela tradição de uso. A disputa entre CH ou X, entre o G e o J e as diversas formas de notar o som /s/ são os principais exemplos de grafias irregulares em nossa língua. Como não há o que compreender, o aprendiz precisa memorizar e consultar os dicionários, sempre que tiver dúvida. Ao lado desses casos, nossa norma ortográfica também define o emprego da acentuação, os usos do hífen, além da segmentação das palavras na oração.

Se é desejável e viável que as regularidades sejam dominadas nos cinco primeiros anos da educação básica, nos casos de irregularidade precisamos ser seletivos e priorizar palavras de uso frequente.

Um ensino de ortografia baseado na reflexão produz resultados bem positivos. Criando sequências didáticas que auxiliam os alunos a refletir sobre determinada dificuldade (por exemplo, o emprego de R ou RR), os ajudamos a consolidar seus conhecimentos sobre as regularidades da norma ortográfica. Ensinando a consultar os dicionários, permitimos que tenham autonomia para resolver suas dúvidas quanto às irregularidades.


Verbetes associados: Apropriação do sistema de escrita alfabética, Dialeto, Dicionários – seu uso em alfabetização, Fonema, Regras ortográficas, Sequência didática


Referências bibliográficas:
BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. O último ano do ciclo de alfabetização: consolidando os conhecimentos. Ano 3: unidade 3. Brasília: MEC, SEB, 2012.
MORAIS, A. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 1998.
SILVA, A.; MORAIS, A.; MELO, K. Ortografia na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

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