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Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

Autor: Claudia Lemos Vóvio,

Instituição: Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP / Departamento de Educação, Curso de Pedagogia e Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência,

O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) é uma iniciativa de medição do alfabetismo da população brasileira, criado e implementado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, e seus resultados são publicados anualmente. Tem como objetivos a oferta de informações qualificadas sobre as habilidades de leitura, escrita, cálculo numérico e resolução de problemas, sobre as práticas de letramento e numeramento, e sobre a autopercepção dessas habilidades e práticas pelo segmento jovem e adulto da população. O interesse central é fomentar o debate público e subsidiar a formulação de políticas de educação e cultura, conforme vários estudos de Ribeiro e colaboradores.

            A pesquisa é realizada por meio da aplicação de entrevistas individuais domiciliares, em amostras representativas da população brasileira de 15 a 64 anos, compostas por duas mil pessoas. Dois instrumentos são utilizados: um questionário e um teste. O questionário contém itens que abordam características sociodemográficas, culturais e econômicas dos respondentes, a partir de suas práticas de leitura e escrita (letramento), cálculo e resolução de problemas matemáticos, suas percepções sobre o domínio de habilidades e práticas e os acervos de que dispõem em diferentes esferas de convivência: doméstica, trabalho, lazer, participação cidadã, educação e religião.

Já o teste busca aferir habilidades leitoras que avaliam desde se a pessoa sabe ler ou escrever textos simples até se consegue inferir informações de textos longos e complexos. E, ainda, habilidades matemáticas, verificando se a pessoa é capaz de fazer a leitura de números familiares e cálculos e solucionar problemas matemáticos. O teste é composto por um conjunto de textos (bilhetes, notícias, instruções, narrativas, gráficos, tabelas, mapas, anúncios, etc.), explorados por meio de um protocolo com perguntas a serem respondidas pelos entrevistados. A partir da análise dos escores obtidos pelos participantes, o desempenho é classificado em quatro faixas – a primeira compreende o analfabetismo e as outras abarcam três níveis de alfabetismo, conforme descrição de Ribeiro e colaboradores.

O primeiro nível (analfabetismo) corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases, ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (telefones, preços, etc.).

O nível 1 (alfabetismo rudimentar) corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (por exemplo, um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica. 

O nível 2 (alfabetismo básico)  inclui  pessoas que  podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações, mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações.

No nível 3 (alfabetismo pleno), estão situadas as  pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos.

Entre 2001 e 2005, o Inaf abarcou, alternadamente, habilidades de leitura e escrita (2001, 2003 e 2005) e habilidades de cálculo e resolução de problemas (2002 e 2004). Em 2006, sua metodologia foi aperfeiçoada com a introdução da Teoria da Resposta ao Item (TRI), o que permitiu integrar níveis de alfabetismo e de numeramento em uma escala de proficiência única. A partir de 2007, a aplicação do teste ocorreu de maneira integrada e simultânea.


Verbetes associados: Alfabetização, Alfabetização de jovens e adultos, Alfabetização funcional, Analfabetismo, Escala de proficiência, Letramento, Numeramento


Referências bibliográficas:
BATISTA, A. A. G.; RIBEIRO, V. M. M. Cultura escrita no Brasil: modos e condições de inserção. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 29, n.2, 2004.
INAF. Inaf Brasil 2011. Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional. Principais resultados. São Paulo: Instituto Paulo Montenegro; Ação Educativa, 2011.
RIBEIRO, V. M. Por mais e melhores leitores: uma introdução. In: RIBEIRO, V. M. (Org.). Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF. São Paulo: Global, 2003.
RIBEIRO, V. M.; VÓVIO, C. L.; MOURA, M. P. Letramento no Brasil: alguns resultados do indicador nacional de alfabetismo funcional. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 81, dez. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302002008100004&lng=pt&nrm=iso. http://dx.doi.org/10.1590/S010173302002008100004. Acesso em: 30 de abril de 2014.

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