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Método alfabético e de soletração

Autor: Isabel Cristina Alves da Silva Frade,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Empregado desde a antiguidade até meados do século XIX, em vários locais cujo sistema de escrita é o alfabético, o método alfabético pode ser considerado o mais antigo. Segue o princípio geral dos métodos sintéticos, de centrar a atenção do aprendiz em unidades menores e abstratas, a serem combinadas progressivamente. Em sua estrutura mais básica, propõe aprender os nomes das letras do alfabeto, reconhecer cada letra fora da ordem, soletrar seu nome, decorar alguns quadros de sílabas e depois tentar redescobri-las em palavras ou textos, a partir da soletração – com separação por hífens ou espaços que vão guiando a oralização. No Brasil, é comum o uso das expressões “Cartas de letras” ou “Cartas do ABC”, “Cartas de sílabas” e “Cartas de nomes”, o que indica a sequência em que a soletração é exercitada.

A soletração/deletreação significa dizer o nome das letras ao visualizar sílabas e palavras, com o objetivo de se traduzir em sons uma palavra visualizada.  No entanto, a pronúncia do nome da letra afasta o aprendiz do significado da palavra que ele soletra.  Felisberto de Carvalho descreve várias formas da antiga soletração praticada no Brasil, no final do século XIX: para as sílabas ra e so: erre ...á... rá; esse ...ó... só; a forma visual  Ba-na-na  poderia ser soletrada  como be a ba – ba; ene a na – bana – ene a na banana... ou be a ba; ene a na; ene a na... banana. No  método de soletração moderna,  também chamado Port-Royal, criado por gramáticos franceses, atribui-se às consoantes um “nome” que  visa a aproximar o  nome da letra de seu valor sonoro no contexto de uma palavra. No Brasil, esse alfabeto seria pronunciado como na canção ABC do Sertão, de Luiz Gonzaga: a, bê, cê, dê, fê, guê, lê, mê, nê, pê, quê, rê, tê, vê e zê. Nesse caso, a palavra mola seria soletrada como mê o mo  lê a lá... mola.

Os silabários (listas ou tabelas com diversas sílabas) podem variar conforme os idiomas e o número de ocorrências de combinações entre letras apresentadas para o aprendiz. As sílabas são aprendidas como uma sequência de letras que são soletradas e, devido à falta de sentido desse segmento, era comum colocar os alunos para cantarem as combinações, o que se denomina cantilena.

No Brasil,  ao final do século XIX, um dos livros mais editados, o Primeiro Livro de Leitura, de Abílio Cesar Borges, apresenta um método alfabético com quadros de sílabas bem simplificados, apenas na ordem consoante seguida de vogal, como ba be bi bo bu, e quadros de nomes com palavras monossílabas, dissílabas e trissílabas, que são soletradas e aplicadas em pequenas expressões como “O boi lá vai/Dá no boi/Quer bom chá?/O chá tem sal”.

Várias críticas ao método têm destacado a memorização e a falta de sentido. Há, contudo, registros de práticas alternativas, como alguns abecedários cristãos na França, cuja soletração se fazia em torno de orações conhecidas.

O método de soletração faz parte da tradição da transmissão da escrita e, mesmo proscrito das práticas pedagógicas escolarizadas, continua a ser adotado em algumas regiões do Brasil, em espaços domésticos e escolares, e ainda são vendidas “Cartas do ABC”. Deve-se ressaltar que o conhecimento do alfabeto permanece fundamental, como uma das convenções da escrita, sendo trabalhado em livros didáticos, abecedários temáticos, letras móveis ou cartazes elaborados por alfabetizadores.


Verbetes associados: Consoantes, Estrutura Silábica, Métodos e metodologias de alfabetização, Sílaba, Sonoridade, Vogais


Referências bibliográficas:
CHARTIER, A.-M. Práticas de leitura e escrita: história e atualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação (UFSM), v. 32, p. 21-40, 2007.
FRADE, I.C. A. S. Uma genealogia dos impressos para o ensino da escrita no Brasil, no século XIX. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 15, n. 44, p. 264-281, maio/ago. 2010.

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