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Referente

Autor: Luiz Francisco Dias,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Letras,

A relação entre as palavras e as coisas é um tema recorrente na filosofia e na linguística. Pergunta-se sempre como a linguagem identifica pessoas, objetos, fatos, conceitos no mundo real ou imaginário. Entre as respostas a essa pergunta, a mais frequente propõe que é o sentido das palavras (nomes ou expressões) que nos permite identificar, localizar, perceber entidades no mundo extralinguístico. O termo referência se aplica à associação que nomes e expressões linguísticas contraem com entidades do mundo extralinguístico. O termo referente, por sua vez, designa as entidades que são identificadas, localizadas, percebidas, constituídas pela referência. Aqui, o termo “entidade” é compreendido em sentido amplo, e abarca, por exemplo, cidades, como Belo Horizonte; pessoas e animais, como Pedro, elefante; objetos, como lápis; eventos naturais, como chuva; fatos, como Segunda Guerra Mundial; conceitos, como machismo ou raiz quadrada de 36.

Na medida em que a significação dos nomes e expressões permite a referência ao mundo, a particularização do referente é relativa ao uso da língua pelo falante. Dessa maneira, Pedro, lápis, cidade natal do meu avô, o primeiro brasileiro a chegar na lua, são palavras e expressões da língua portuguesa que apresentam significado e que são potencialmente capazes de se associarem a referentes. No uso efetivo, os referentes de Pedro, lápis e cidade natal do meu avô podem ser identificados com uma determinada pessoa, um objeto único e uma cidade específica. No caso de “o primeiro brasileiro a chegar à lua”, essa expressão também apresenta sentido e potencial de referência, mas não há um referente que possa ser vinculado a ela. Estudos recentes defendem uma revisão nas concepções tradicionais sobre o referente. Um desses estudos propõe que o referente advém da atividade linguística do sujeito falante. Portanto, não seria o referente uma entidade previamente concebida no mundo, mas o resultado de uma referenciação, entendida como uma construção de objetos do discurso elaborada pelos interlocutores. Nessa direção, o sentido dos termos e expressões, captados no desenvolvimento dos textos orais ou escritos, produz a criação do referente, e não a sua localização no mundo.

Na prática pedagógica, o conceito de referente adquire importância na medida em que permite uma reflexão sobre os diversos modos que temos à disposição na língua para constituir um referente. Assim, o maior goleador em copas do mundo de futebol, a decepção brasileira na Copa da França, o jogador conhecido como “o fenômeno”, são construções linguísticas - constroem de modos discursivos diferentes a identidade de um referente, que os brasileiros conhecem por Ronaldo.


Verbetes associados: Discurso, Sentido, significado e significação, Situação comunicativa, Texto


Referências bibliográficas:
LYONS, J. Semântica. vol. 1. Lisboa: Editorial Presença, 1980.
GUIMARÃES, E. Semântica e pragmática. In: GUIMARÃES, E. ; ZOPPI-FONTANA, M. (orgs.) A palavra e a frase. Campinas: Pontes, 2006. p. 113-143.
MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE, M. M. et al (orgs.) Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003.p. 17-52.

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