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Convenções ortográficas

Autor: Neiva Costa Toneli,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

A ortografia da língua portuguesa é um sistema convencional de representação que prescreve a forma correta de se escrever as palavras, incluindo as letras, a acentuação gráfica e a segmentação das palavras. Se por um lado a ortografia facilita a vida do leitor, permitindo que um mesmo texto seja lido em qualquer variação dialetal, por outro lado complica enormemente a vida dos usuários da escrita, que precisam conhecer as convenções ortográficas, já que não se escreve do mesmo jeito que se fala. Por isso, saber ortografia, conhecer a forma dicionarizada das palavras não é uma tarefa fácil. Além do mais, em função sua maior visibilidade, a ortografia tende a ser usada como critério de avaliação do desempenho na escrita. O problema muitas vezes é que uma dimensão exagerada da importância das convenções situadas no nível da palavra produz uma concepção de que a ortografia é o único fator que garante o sucesso de um texto, quando bem sabemos que a soma de palavras escritas corretamente não garante que o aprendiz produza um bom texto.

O sistema ortográfico hoje usado no Brasil baseia-se em um acordo firmado em 1943, que vem sofrendo, ao longo dos anos, pequenas modificações. Em 1971, houve algumas alterações que determinaram, entre outras coisas, o fim dos chamados acentos diferenciais. Em 1990, foi aprovado um Acordo Ortográfico envolvendo os sete países lusófonos. Esse acordo visa a uma maior homogeneidade na escrita da língua, com o objetivo político de alçar a língua portuguesa nos organismos internacionais e de facilitar o trânsito de materiais escritos produzidos em diferentes espaços. No entanto, disputas também políticas que envolvem questões ligadas às identidades nacionais e às questões econômicas têm provocado constantes adiamentos da efetivação do Acordo.

As convenções ortográficas preveem que todo usuário da língua reconheça o alfabeto como sistema de representação gráfica de sinais sonoros. Postula a necessidade de se escrever ortograficamente palavras com correspondências regulares diretas entre letras e fonemas. É necessário, também, conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares contextuais, entre letras ou grupo de letras e seu valor sonoro. Nesse caso estão o uso de: g/gu, c/qu, ç/c, s/ss (som de [s]), s (som de [z]), r (brando), R (forte), m/n, e (som de [i, e, ɛ]), o (som de [u, o, ɔ]).

São convenções ortográficas, ainda, palavras com regularidades morfológico-gramaticais, presentes em substantivos e adjetivos (adjetivos que indicam lugar de origem, terminados em -esa, substantivos derivados de adjetivos, terminados em -eza, coletivos terminados em l, entre outros). Também as regularidades morfológico-gramaticais, presentes nas flexões verbais (formas da 3ª pessoa do singular do passado escritas com u final; formas da 3ª pessoa do plural no futuro que se escrevem com ão, enquanto nos outros tempos verbais se escrevem com am; todos os infinitivos terminados com r, embora no padrão falado haja a sua redução).

Além das regularidades diretas, contextuais e morfológico-gramaticais, os usuários da língua precisam dominar também a grafia de palavras com correspondências irregulares, mas de uso frequente, recorrendo ao dicionário sempre surgir dúvida quanto à escrita de determinada palavra.

É importante ressaltar que as convenções ortográficas não devem ser dadas prontas para os aprendizes e muito menos serem apresentadas sem algum critério de sistematização. As convenções precisam ser aprendidas, o que se faz a partir da reflexão e das práticas sociais de uso. Nesta direção, não é a listagem gratuita de regras que garante o domínio das convenções.


Verbetes associados: Apropriação do sistema de escrita alfabética, Convenções da escrita, Ortografia, Regras ortográficas, Segmentação de palavras, Sistemas de escrita, Texto


Referências bibliográficas:
COSTA VAL, M.G. Avaliação do texto escolar. Professor-leitor/Aluno-autor. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
LEMLE, M. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 1988.
MORAIS, A. G. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 1998.
OLIVEIRA, M. A. Conhecimento linguístico e apropriação do sistema de escrita. Belo Horizonte: Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – Ceale/ FaE/ UFMG, 2005. (Coleção Alfabetização e Letramento, Caderno do Formador)

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