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Coerência textual

Autor: Maria Angela Paulino Teixeira Lopes,

Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais-PUC Minas / Departamento de Letras,

A noção de coerência textual surgiu, no campo da Linguística Textual, inicialmente, como um fator da aceitabilidade do texto pelo ouvinte/leitor, e a coesão textual era considerada um aspecto da gramaticalidade, no âmbito da frase. Portanto, ambas eram examinadas como propriedades estritamente linguísticas dos enunciados. A partir da contribuição de estudos voltados para o texto e o discurso (Análise do Discurso, Pragmática, Semântica, Análise da Conversação, entre outros), a coerência textual passa por redefinições, provocadas, especialmente, pelo deslocamento de foco do plano do enunciado para o plano da enunciação, isto é, da visão de texto como produto para a percepção de texto como efeito de processos sociointeracionais, ligados aos discursos.

Nessa perspectiva, o sujeito passa a ter um papel de relevância na construção dos sentidos do texto e, consequentemente, na atribuição de coerência aos textos que produz e com os quais interage, nas situações sociais. Levando-se em conta a complexidade dos textos e hipertextos, na contemporaneidade, a coerência textual implica uma ação de interpretação por parte do sujeito-leitor/ouvinte, capaz de ativar uma rede múltipla de processos sociocognitivos e interacionais para produzir sentidos. A ativação dessa rede de processos pode ser mais bem exemplificada por meio de textos que circulam socialmente, tal como o do cartaz “Seguro morreu de tédio”, afixado em um muro do espaço urbano, cuja compreensão demandará do sujeito o estabelecimento de relações entre o texto do cartaz e o provérbio popular “Seguro morreu de velho”; ou ainda, recorrendo ao discurso midiático, o título de matéria jornalística “Fátima abandona Bonner e vai fazer programa”, veiculado em um jornal carioca, em dezembro de 2011, cuja interpretação exigirá do leitor a capacidade de ativar conhecimentos de várias ordens – não somente linguísticos, mas semântico-sintáticos, pragmáticos, contextuais, socioculturais. A leitura de textos como os citados implica uma ação altamente colaborativa do sujeito, no sentido de mobilizar inferências que serão testadas na busca pela atribuição de coerência aos textos em questão.  

No trabalho com textos na escola, a ideia de que a coerência textual (assim como o sentido) não se encontra a priori no texto, mas é construída na situação interlocutiva, levará o professor a mostrar aos alunos a necessidade de considerar aspectos ligados às condições enunciativas, tais como: i) intenções e finalidades dos interlocutores; ii) lugares sociais e institucionais que ocupam e papéis que desempenham os interlocutores; iii) conhecimentos compartilhados pelos interlocutores em relação ao tema e a outros intertextos, ao nível de linguagem, ao gênero textual e em função do evento de interação discursiva.


Verbetes associados: Coerência pragmática, Coesão textual, Condições de produção do texto, Discurso, Enunciação / enunciado, Hipertexto, Inferência na leitura, Interação, Situação comunicativa, Texto, Produção de textos


Referências bibliográficas:
BENTES, A. C. Linguística textual. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v.1. São Paulo: Cortez, 2001. p. 245-287.
CHAROLLES, M. Introdução aos problemas da coerência dos textos. In: COSTE, D. et al. (Org.). O texto: leitura e escrita. Campinas, SP: Pontes, 2002. p. 39-90.
COSTA VAL, M. G. Repensando a textualidade. In: AZEREDO, J. C. Língua portuguesa em debate. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p. 34-51.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1992.

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