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Cartilhas e materiais para aprender a ler

Autor: Francisca Izabel Pereira Maciel, Isabel Cristina Alves da Silva Frade,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Nos verbetes de diferentes dicionários brasileiros, o termo cartilha “designa um pequeno caderno que contém as letras do alfabeto e os primeiros rudimentos para aprender a ler; carta do abc” (Houaiss); “é diminutivo de carta, livro ou carta para ensinar a ler” (Caldas Aulete); “é livro para ensinar a ler” (Koogan/Houaiss) ou, ainda, “é livro para aprender a ler" (Aurélio Buarque de Holanda). A diferença entre essas definições está apenas no papel do sujeito: as cartilhas ensinam a ler – foco no professor/instrutor –, ou servem para aprender a ler – foco no aprendiz. Em todas as definições, o significado de cartilha é restrito ao ato de ensinar e/ou aprender a ler, sem menção a escrever. O pressuposto é de que o aprendizado da leitura antecede o da escrita. Isso de fato se deu por alguns séculos. Ensinava-se/aprendia-se a ler e, depois, a escrever.

Na História do Ensino no Brasil, as Primeiras Cartas ou Cartinhas de Alfabetização foram produzidas em Portugal, chegando até nós no final do século XVI. Entretanto, são esparsas as informações sobre cartilhas entre os séculos XVI e XVIII. No século XIX, em documentos que circularam no Brasil, os termos tabelas, cartas, cartões, folhetos e cartazes aparecem como materiais para ensinar a ler e podem ser apresentados no formato manuscrito ou impresso. As cartas podiam vir destacadas como folhas soltas e eram designadas como “Cartas de ABC”, “Cartas de Nome”, “silabários” ou “abecedários” e algumas cartas também vinham agrupadas na forma livro.

Assim, nem sempre se deu o nome de cartilha a livros para iniciantes. As designações variam conforme a pedagogia, o país e a época, sendo comum, no final do século XIX e início do século XX, o termo “Primeiro Livro de Leitura”. No Brasil, o termo pré-livro aparece vinculado ao método global de contos, e se constitui como a reprodução, em miniatura, de cartazes que o professor apresentava para a classe e os alunos iam montando, aos poucos, na forma de um fichário.  O termo cartilha não se vincula necessariamente a um método, havendo cartilhas dos métodos analíticos e cartilhas dos métodos sintéticos.

O século XX foi marcado pela expansão das escolas e, consequentemente, pelo crescimento editorial dos livros didáticos. Com a diversificação da produção e inovações nos métodos, o termo cartilha passa a ser associado a métodos que primam pela repetição de sílabas e fonemas, pela presença de textos produzidos artificialmente, portanto descontextualizados, denominados na cultura pedagógica como “textos acartilhados ou pseudotextos”. Atualmente, as cartilhas cederam espaço para os livros de alfabetização. Os alunos podem ler e escrever em seus próprios livros, que se baseiam em diferentes concepções sobre ensinar e aprender a ler e a escrever e na perspectiva do letramento.


Verbetes associados: Livro didático de alfabetização , Método alfabético e de soletração, Método fônico ou fonético, Método global, Método silábico, Métodos e metodologias de alfabetização


Referências bibliográficas:
FRADE, I. C. A. S. Uma genealogia dos impressos para o ensino da escrita no Brasil, no século XIX. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 15, n. 44, p. 264-281, maio/ago. 2010.
MACIEL, F. I. P. Ler, escrever e contar... a história da alfabetização em Minas Gerais. In: PERES, E.; TAMBARA, E. Livros escolares e ensino da leitura no Brasil: séculos XIX/XX. Pelotas/RS: Seiva/Fapergs. 2003
MORTATTI, M. R. L. Os sentidos da alfabetização. São Paulo: INESP/CONPED/INEP. 2000.

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