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Recursos coesivos

Autor: Márcia Mendonça,

Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP / Instituto de Estudos da Linguagem-IEL,

Os recursos coesivos são um conjunto amplo de mecanismos linguísticos usados para o estabelecimento de relações de sentido entre as partes de um texto verbal, tanto na modalidade oral quanto na escrita. Esses recursos podem contribuir para ligar desde termos, orações e períodos, até porções maiores de texto, como parágrafos e capítulos, ou turnos extensos de fala.

Os recursos coesivos promovem a coesão no plano nominal e no plano sequencial. A coesão nominal atua de forma central nos processos de referenciação, para introduzir referentes, retomá-los e reelaborá-los. Dessa forma, são criadas e mantidas cadeias de referentes, necessárias para a manutenção e a progressão temática em um texto. Nesses processos de referenciação, podem ser utilizadas expressões nominais variadas, pronomes, sinônimos e hiperônimos. É o caso de um texto sobre mobilidade urbana que apresente uma cadeia referencial introduzida pelo termo instalação de ciclovias e que é retomada ou reelaborada pelas expressões alternativa de mobilidade urbana, isso, tal providência. No caso da hiperonímia, temos, por exemplo, o substantivo veículo que é hiperônimo de carro, ônibus, motocicleta e pode retomar qualquer um desses termos.

Já no plano da coesão sequencial, os recursos coesivos colaboram para o estabelecimento de relações lógico-semânticas – de tempo, de oposição, de finalidade, de causa, etc. Entre esses recursos, encontram-se preposições, conjunções locuções conjuntivas, adjuntos adverbiais e expressões criadas pelo enunciador para marcar alguma relação lógico-semântica entre componentes do texto. Por exemplo, expressões que indicam relações espaciais, como na minha casa / na casa da minha avó, ou temporais, como na hora que eu cheguei / na hora que eu saí; na minha infância / na minha adolescência. A presença de pares de expressão como esses num texto pode contribuir para que o ouvinte/leitor entenda a organização dos conteúdos verbalizados. A correlação entre os tempos e modos verbais também é um recurso de coesão sequencial. Quando se diz, por exemplo, “Ontem eu falei com meu vizinho para não fazer barulho depois das 22 horas. Eu já tinha falado antes, mas ele não ligou”, a relação entre o pretérito perfeito (falei) e o pretérito mais-que-perfeito (tinha falado) sinaliza a relação temporal entre os fatos narrados e contribui para a construção da coesão pelo ouvinte/leitor.

A pontuação também pode funcionar como recurso coesivo. Além de ligar termos e orações, estabelecendo relações de coordenação e de subordinação, o uso de certos sinais de pontuação ajuda a imprimir efeitos de sentido variados ao texto. Uma possibilidade é o encadeamento de frases nominais, separadas por ponto, para imprimir certa atmosfera de suspense, como em: “As janelas rangiam. A noite toda. A noite toda. Sem parar.”

Para a maioria dos textos, a coesão contribui decisivamente para a textualidade, ao lado de outros mecanismos e estratégias mobilizados. No entanto, há textos que não apresentam recursos coesivos sequenciais, como uma lista aleatória de compras, constituída por palavras soltas, uma abaixo da outra. Mesmo nesses casos, o sentido global se estabelece por algum outro mecanismo. Pode ser através da coesão nominal, uma vez que as palavras pertencem a um rol previsível de produtos normalmente adquiridos em mercado ou feira, ou seja, há uma relação semântica entre eles. Além disso, a introdução intencional de algum critério de ordenação cria categorias que equivalem a recursos coesivos. Considerando-se a situação de interlocução, o gênero, a finalidade do texto - isto é, um conjunto de conhecimentos prévios de caráter pragmático - o leitor poderá realizar inferências que o auxiliem a compreender o texto.


Verbetes associados: Coerência pragmática, Coerência textual, Coesão textual, Pontuação, Referente, Texto,


Referências bibliográficas:
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2007.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
KOCH, Ingedore Villaça e ELIAS, Maria. Ler e compreender: os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

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