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Método natural/ método Freinet/ método de linguagem integral

Autor: Isabel Cristina Alves da Silva Frade,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Segundo Gilda Rizzo Soares, o método natural foi implementado no Brasil em 1946, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, a partir de estudos de Heloisa Marinho, em colaboração com Lourenço Filho, inspirados em pesquisas alemãs. Sua análise comparativa de métodos de alfabetização apontou relações entre método global e método natural, com algumas diferenças: no segundo, haveria uma produção mais “espontânea” de textos, escritos pelas crianças, a partir de um repertório mínimo de palavras conhecidas pela classe. A esse repertório poderiam ser acrescidos substantivos e verbos de ligação, desenhos, atividades e jogos para análise sonora e gráfica que levam a criança a perceber o som dentro do todo o audiovisual da palavra – entre outros, o jogo “preguicinha”, com objetivo de desenvolver o reconhecimento de sons e letras, a partir da emissão oral da “melodia” da palavra inteira, apresentada lentamente.

Segundo Anne-Marie Chartier e Jean Hébrard, o método natural foi utilizado pelo pedagogo francês Freinet e assumido por ele como uma adesão ao método global de leitura – que teve seu auge em 1960 –, com foco na produção escrita. Nessa atividade, a criança teria necessidade de solicitar a um adulto um modelo gráfico das palavras e sua motivação seria mantida por incentivos para que se comunicasse à distância. A leitura, assim, seria consequência da escrita. Na prática do método em escolas francesas, após discussões livres, os professores encaminhavam com a classe a escrita de uma frase ou texto, lido, copiado no caderno e depois impresso, com a escolha dos alunos “tipógrafos do dia”. Além disso, era registrado em cartolina e cortado em tiras, para ser remontado. A questão da decodificação só se tornava necessária em determinada época do ano, na qual os alunos trocavam arquivos entre salas e era necessário ler palavras novas. O professor intervinha, com comparação entre as palavras novas e as memorizadas, propondo a análise em forma de jogo.

A produção de uma imprensa pedagógica tem, então, uma centralidade no método natural de Freinet. Nessa pedagogia, as crianças escrevem porque é preciso realizar um jornal escolar e trocar correspondências, e não apenas para cumprir uma atividade escolar, escrevendo para pessoas que estão presentes. Percebe-se, assim, que a produção de textos visava a cumprir uma função social, contribuindo para uma vivência democrática na escola.

O trabalho de alfabetização denominado linguagem integral por Ana Teberosky e Teresa Colomer segue princípio semelhante ao do método natural e privilegia a escrita e a leitura, quando essas se fazem necessárias. Acredita-se que as crianças aprendem a ler e a escrever em situações de imersão em seus diversos usos sociais, em situações comunicativas e em intercâmbios em sala de aula. A aprendizagem das convenções da escrita ocorreria da mesma forma, evitando-se o ensino direto de letras ou de palavras descontextualizadas. O método preconiza, assim, atividades de alfabetização pouco dirigidas pelo professor, com ênfase nas ações autênticas em torno dos atos de escrever e ler.


Verbetes associados: Decodificação, Fonema, Método global, Métodos e metodologias de alfabetização, Situação comunicativa, Sonoridade, Texto, Usos sociais da língua escrita


Referências bibliográficas:
BRASLAVSKY, B. O método: panaceia, negação ou pedagogia? Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 66, p. 41-48, ago. 1988.
CHARTIER, A.-M.; HÉBRARD, J. Método silábico e método global: alguns esclarecimentos históricos. História da Educação, Pelotas: Editora da UFPel., v. 5, n. 10, p.141-154, out. 2001.
SOARES, G. R. Estudo comparativo dos métodos de ensino da leitura e da escrita. 4.ed. Rio de Janeiro: Papelaria América Editora, 1986.
TEBEROSKY, A.; COLOMER, T. Aprender a ler e escrever. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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